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04/11/2021 - 09h27

Clientes prioritários dos portos


Fonte: A Tribuna On-line / Luis Claudio Santana Montenegro*
 
É do arrendatário que se deve buscar as percepções e oportunidades de melhoria da gestão portuária
 
Denominamos o conjunto de stakeholders nos portos pelo simpático nome de comunidade portuária, termo que nos traz a noção de colaboração, concordância e harmonia, objetivos principais para uma gestão portuária de excelência. Nos resta compreender o conjunto de elementos contidos neste grupo e a natureza de suas relações para, então, compreendermos quem deve ser o cliente prioritário do porto.
 
Por comunidade portuária, entende-se uma diversidade de prestadores de serviço, de usuários e de trabalhadores. No grupo dos prestadores de serviço, transportadores das diversas modalidades, práticos, rebocadores, despachantes, autoridades públicas. Ainda neste grupo, destaque para os operadores portuários, para os quais dedicaremos um pouco mais de atenção.
 
Já entre os trabalhadores, estão os relacionados aos próprios operadores, dos quais parte são avulsos, requisitados a cada trabalho. Há também os destacados na gestão das administrações portuárias, e os ligados aos demais prestadores de serviço ou seus contratantes.
 
Pois quando se fala em contratantes, utiliza-se a denominação “embarcador”, que significa o contratante do serviço de transporte, o interessado final na movimentação da carga, o importador, o exportador, o comerciante nacional que se utiliza da cabotagem para transporte dos seus produtos dentro do país, ou seus representantes, despachantes, agentes, brokers, tradings.
 
Antes de matarmos a charada de quem é o cliente prioritário dos portos, é preciso nos aprofundarmos um pouco mais no conceito de operador portuário, em particular, na forma da sua atuação. Ele pode realizar suas operações contando com instalações e equipamentos públicos, situação que tem se tornado cada vez mais rara no Brasil.
 
Quando essas operações possuem volume e regularidade suficientes, é natural que o operador portuário opte por berços, equipamentos e áreas de uso exclusivo, e isso é concretizado pelos arrendamentos para implantação de terminais portuários especializados.
 
Além disso, perseguimos há muito o modelo Landlord de gestão portuária, no qual a administração portuária arrenda áreas para que operadores portuários possam constituir seus terminais especializados.
 
Se entendermos que é o operador portuário o responsável por toda a mágica dos fluxos de carga nos portos, e estamos em busca da perfeita implantação do modelo Landlord, estaremos na last mile para a resposta.
 
Sem mais suspense, o cliente direto, prioritário do porto deve ser o arrendatário em um modelo Landlord. É ele que interage com transportadores, com comerciantes, com trabalhadores e com os demais prestadores de serviço. É para ele que a administração portuária deve dedicar o seu trabalho e eficiência na prestação de serviços. É do arrendatário que se deve buscar as percepções e oportunidades de melhoria da gestão portuária e é legítimo, portanto, que sempre ouçamos prioritariamente os arrendatários sobre o destino que queremos para os portos brasileiros.
 
*Luis Claudio Santana Montenegro, graduado em Engenharia Civil pela UFES, Mestre em Engenharia de Transportes pelo IME, especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Planejamento, Gestão e Operações em Corredores de Transporte e em Regulação de Transportes pela UFRJ. Foi presidente do Conselho de Administração da Companhia Docas do Pará, membro do Conselho de Administração do Porto de Imbituba e do Porto de Vitória, diretor de Planejamento da Companhia Docas de São Paulo, diretor presidente da Companhia Docas do Espírito Santo – CODESA e assessor parlamentar no Senado Federal.