Artigos e Entrevistas
26/05/2021 - 08h31

Eu primeiro?


Fonte: A Tribuna On-line / Maxwell Rodrigues*
 
A vacinação dos portuários, por exemplo, deve ser tratada como prioridade
 
 
Toda vez que ouço falar de prioridade lembro imediatamente da travessia Santos-Guarujá, onde por várias vezes cheguei a ver uma fila maior na prioridade do que a fila normal para atravessar entre as duas margens.
 
Se prioridade é uma condição ou estado de primeiro, antecedência no tempo, na ordem ou condição de que está em primeiro lugar em urgência e/ou necessidade, como podemos entender que uma fila de prioridade seja maior do que uma fila que não é prioridade?
 
Ë claro que, durante décadas, nos acostumamos com o senso de prioridade em tudo. Isso está inserido em nossa cultura. Até mesmo para entrar no elevador as pessoas não esperam as que estão dentro saírem para que elas entrem.
 
Comportamento claro do senso de priorização.
 
De toda forma existem questões que, por maiores que sejam os conflitos de entendimento do que é ser prioridade ou não, necessitam ser consideradas urgentemente, mesmo que a prioridade seja uma ação de urgência.
 
Já estamos falando da urgência da urgência? Ou prioridade da prioridade?
 
A vacinação dos portuários, por exemplo, uma classe que rotineiramente está exposta ao convívio com outras pessoas das mais diferentes nações: por força da atividade e pela situação operacional do trabalho, deve ser tratada tal como!
 
Não podemos travar o debate onde tudo é prioridade e, assim, voltar ao ciclo da fila da balsa Santos Guarujá, onde em algumas ocasiões os prioritários são maiores que os não-prioritários.
 
Isso não é prioridade!
 
As classes produtivas que abastecem o Brasil e o mundo, contribuindo com o país, devem ser consideradas prioritárias e, com isso, vacinadas o quanto antes.
 
Isso é prioridade, mas se todos entenderem que são prioridade não existirá prioridade.
 
Muitas vezes, a prioridade em nosso país está associada à escassez de produtos ou serviços. No caso da vacina fica evidente a falta dela e, com isso, a necessidade de priorizar as pessoas.
 
Isso não é um privilégio somente desta pandemia. A falta de contêineres na operação portuária pode afetar os preços dos produtos e a economia; a falta de produtos como o arroz e outros commodities face à politica de exportação também está impactando o mercado interno. São prioridades definidas mas que geram reflexos a curto e médio prazos!
 
Os reajustes de preços de muitos produtos ultrapassam a valoração dos rendimentos e recebíveis da maior parte da população.
 
Sempre definimos prioridades por setores ou até mesmo por alguns interesses, mas ainda não percebemos que temos uma demanda gigantesca em muitas áreas.
 
Ao invés de priorizarmos pela alta escassez, precisamos deixar de ser míopes e ampliar as possibilidades dos negócios e oportunidades, seja aumentando o número de vacinas disponíveis, o que é obvio, mas também impulsionando a indústria nacional como o próprio contêiner ou mercadorias de alto valor agregado. Fomentando, assim, o emprego e o desenvolvimento.
 
A prioridade sempre será definida por alguém, mas para políticas de estado, o foco deve ser na alta disponibilidade e não escassez, para que, assim, obrigatoriamente, tenha de se priorizar.
 
No caso dos trabalhadores portuários não estamos falando de prioridade, pois esta deveria ter ocorrido no fim do ano passado. Hoje estamos falando de imediata necessidade.
 
Prioridade da prioridade! Após a luta de muitos, hoje essa classe começará a ser vacinada.
 
Gostaria de não usar nenhum tipo de prioridade e sim ter oportunidades para empreender, consumir, monetizar e socializar em um país justo com todos e não somente com alguns.
 
Não precisamos continuar priorizando mas, sim, fomentando as demandas que não são atendidas no Brasil e que podem ser transformadas em enormes oportunidades de crescimento e amadurecimento social.
 
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360º. Possui mais de 20 anos de experiência em tecnologia e automação portuária.