Notícias

Cientistas políticos acreditam em polarização entre Bolsonaro e Lula nas eleições de 2022

Fonte: A Tribuna On-line

Cenário eleitoral começa a ganhar corpo 17 meses antes do pleito para definir o próximo presidente do país
 
 
Um evento programado para daqui a 17 meses parece ser uma eternidade para a maioria das pessoas, mas há exceções. Uma delas é a eleição presidencial, programada para outubro de 2022. Aos poucos, as conversas de bastidores entre dirigentes partidários começam a vir à tona, as pesquisas passam a ser realizadas com frequência e são montadas as equipes de trabalho em busca de corações e mentes de eleitores.
 
Esse processo foi antecipado a partir da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no mês passado, anulando as ações penais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por não se enquadrarem no contexto da operação Lava Jato. Hoje, o petista está com o caminho livre para disputar o Palácio do Planalto contra o atual chefe do Executivo federal, Jair Bolsonaro (sem partido).
 
Esse embate ocorreria em 2018, mas, em janeiro daquele ano, Lula foi tirado do jogo em razão da Lei da Ficha Limpa, após ter sido condenado em segunda instância pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo relacionado ao triplex de Guarujá.
 
Segundo cientistas políticos ouvidos por A Tribuna, é provável que o pleito presidencial seja polarizado entre eles, embora outros nomes tentem se consolidar como uma terceira via.
 
Doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Rafael Moreira Dardaque Mucinhato fez questão de ressaltar que a política brasileira é completamente dinâmica e possui grau de insegurança jurídica elevado, pois determinado nome pode estar impedido de estar nas urnas.
 
“Acredito que ocorrerá uma disputa e os debates que não tivemos em 2018 entre Lula e Bolsonaro. São duas figuras com uma grande capilaridade, muitos seguidores nas redes sociais e apelo social grande. Tudo caminha para isso, mas não dá para cravar”.
 
O cientista político Alberto Carlos Almeida acredita que uma terceira via é possível, mas pouco provável, porque de um lado há um chefe do Executivo que tenta a reeleição e, do outro, está um ex-presidente que saiu do cargo muito bem avaliado.
 
“Só estes dois fatores já amarram a eleição. Ou você fica com quem está aí ou escolhe quem já foi e deu certo. O que um terceiro vai oferecer? Essa é a dificuldade”, destacou ele, que é autor do best-seller A Cabeça do Brasileiro.
 
Desgaste
 
Na avaliação do professor da Universidade Mackenzie e cientista política Rodrigo Prando, Bolsonaro já iniciou o mandato se colocando na condição de tentar a reeleição e Lula não só possui um grande capital político como aparece bem colocado nas pesquisas, inclusive numericamente à frente do atual presidente nas simulações de segundo turno.
 
“São dois nomes fortíssimos e carismáticos. O PT é um partido que não pode ser menosprezado e o Bolsonaro, apesar do resultado catastrófico na condução do País durante a pandemia de covid-19, tem uma base forte e formada por antipetistas”.
 
O docente entende que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, instalada no Senado, pode desgastar o Governo Federal e abrir caminho para o surgimento de uma terceira via, mas é difícil cravar neste momento que essa figura tenha força para chegar ao segundo turno.
 
Pulverização
 
Apesar de uma possível polarização entre Bolsonaro e Lula nas eleições presidenciais do próximo ano, os partidos têm um motivo muito forte para lançarem candidaturas próprias ao Palácio do Planalto: superar a cláusula de barreira. Para as legendas terem acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV, elas precisarão possuir no próximo pleito ao menos 2% dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da federação ou eleger 11 deputados federais de nove estados diferentes. Esse mecanismo entrou em vigor em 2018 e atingiu várias agremiações, como PRTB, Rede e DC, por exemplo. O PCdoB só conseguiu escapar da nova regra pois houve uma fusão com o PPL. No último pleito, 13 nomes disputaram a Presidência da República. Os partidos entendem que lançar candidaturas ao Executivo coloca as agremiações em evidência, o que beneficia diretamente a chapa de deputados estaduais e federais.
 
Filiação de presidente anima legendas
 
O atual chefe do Executivo federal está sem partido, mas mantém diálogo com várias legendas, como PTB, PRTB, Brasil 35 (ex-PMB), Patri e DC. Na última semana, Jair Bolsonaro esteve reunido com integrantes da cúpula nacional do PRTB e isso animou o presidente da legenda em Santos, Marcelo Coelho.
 
Ele acredita que a vinda do presidente à sigla poderá marcar a reunião de toda a direita e o fortalecimento de um anseio dos brasileiros que não querem ver a esquerda no poder.
 
Já o coordenador do PTB na Baixada Santista, Marcel Farias, afirmou que o partido está de portas abertas para o dono da principal cadeira do Palácio do Planalto. “O nosso presidente nacional, Roberto Jefferson, nos disse que, independentemente da legenda de onde o presidente estiver, iremos apoiá-lo”.
 
Críticas
 
O coordenador do PT na Baixada, Alfredo Martins, crê que o movimento de antecipar as eleições interessa a Bolsonaro, pois ele tenta tirar o foco da gestão incompetente à frente do Governo Federal.
 
O dirigente petista ressaltou que, desde 1989, o PT venceu quatro eleições e ficou na segunda colocação em outros quatro pleitos. Por isso, não pode ser desprezado. “Se depender do PT e de parcela do eleitorado, o Lula será o candidato para derrotar o fascismo e este que é pior presidente da história da República”.
 
Para minar polarização, nomes são estudados
 
Vários nomes têm buscado se consolidar como opção de voto ao eleitorado insatisfeito com Bolsonaro e o PT. Um deles é o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Terceiro colocado nas eleições de 2018, ele ganhou um reforço na comunicação: o marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas vitoriosas de Lula, em 2006, e de Dilma Rousseff, em 2010 e em 2014.
 
Vice-presidente estadual do PDT, Antonio Neto entende que Bolsonaro é fruto de um erro das gestões petistas, que, na visão dele, teve avanços, mas ruíram como um castelo de cartas. “Precisamos de uma alternativa para fazer a reconciliação do povo brasileiro. O Ciro é alguém que tem um claro projeto nacional de desenvolvimento para o País”.
 
Papel fundamental
 
Na visão do presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, a sigla tem um papel fundamental nas eleições do próximo ano, quando duas forças radicais e opostas se farão presentes. “O PSDB representa o equilíbrio e vamos apresentar ao País propostas para conduzir o Brasil para frente, sem retrocessos”.
 
O tucano explicou que a sigla tem bons nomes, mas defende a candidatura do governador de São Paulo, João Doria. Um dos trunfos é que, de cada dez vacinas aplicadas contra a covid-19, oito foram produzidas no Instituto Butantan. “O Doria representa um projeto de País dinâmico, ponderado, capaz de incentivar a livre iniciativa e proteger os mais vulneráveis”.
 
Centro liberal
 
O presidente estadual do PSL, deputado federal Júnior Bozzella, explicou que a volta de Bolsonaro ao partido foi rechaçada e a sigla pretende lançar um nome ao Palácio do Planalto no campo do centro liberal.
 
“A gente vai caminhar para uma candidatura que fugirá dos extremos, de combate à corrupção e defesa das liberdades. Precisamos alinhar essa estratégia com as disputas nos estados e uma chapa de deputados mais homogênea”.
 
A ideia é que o PSL possa manter um papel de protagonismo na política do País e no campo do centro democrático. Um dos nomes cogitados para essa missão é o do ex-juiz Sergio Moro, que tem a antipatia de petistas e de bolsonaristas.
 
“Ele é um excelente nome, mas não tem se apresentado ao processo político de forma explícita. Uma importante vertente do PSL gostaria de vê-lo conosco”.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)



Compartilhe


Voltar