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Desemprego sobe em junho e sinaliza nova piora, diz Ibre

Fonte: Valor Econômico
 
A taxa de desemprego brasileira medida pelo IBGE encerrou o segundo trimestre deste ano com recorde para o período na série, iniciada em 2012, mas um olhar mais detalhado dos números revela que a deterioração do mercado de trabalho na pandemia foi especialmente forte em junho - e o pior ainda deve vir. Após permanecer ao redor de 12,9% em março, abril e maio, cerca de um ponto percentual acima do observado no prépandemia (janeiro e fevereiro), a taxa mensal de desemprego acelerou para 14,2% em junho, a maior na série mensalizada pelos pesquisadores Paulo Peruchetti, Tiago Martins e Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). O IBGE, que apresenta a desocupação por médias móveis trimestrais, mostrou que o desemprego passou de 12,2% no primeiro trimestre do para 12,6% nos três meses até abril e 12,9% até maio, encerrando o segundo trimestre em 13,3%.
 
Observar dados de alta frequência - “na ponta”, como se diz no jargão econômico - é importante por causa das incertezas impostas pela pandemia, dizem os pesquisadores. “A média móvel traz menos ruído, mas agora queremos entender como foi a queda e o timing correto da recuperação”, afirma Duque. Para “mensalizar” as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, foi aplicada metodologia proposta pelo Banco Central em seu mais recente relatório trimestral de inflação. “Quando olhamos a taxa mensalizada, vemos o que de fato está acontecendo no mês. E o resultado é que o mercado de trabalho está muito fragilizado, são quedas muito fortes no emprego em junho”, diz Peruchetti. O avanço da taxa de desemprego em junho resulta de um ritmo maior de queda no número de trabalhadores ocupados, ao mesmo tempo em que houve desaceleração no crescimento das pessoas fora da força de trabalho. 
 
Em fevereiro, a população ocupada crescia 1,8% em relação a igual período de 2019. Em março, passou a cair 2,5%, aprofundando para -9,2% em abril, -10,7% em maio e chegando a -12,1% em junho, a maior queda da série mensalizada. Na crise de 2014/2016, as quedas na população ocupada foram bem menores, com o pior momento em outubro de 2016 (-2,9%).
 
Na indústria como um todo, a perda de ocupação foi de 15,8% em junho, ante igual mês de 2019, sendo que em maio a retração foi de 11,9%. A maior pressão contracionista foi a queda de 20,5% na ocupação da construção civil. No setor de serviços, que concentra cerca de 70% do emprego no país, o emprego recuou 11,5% em junho na base interanual, ante 10,7% em maio. Segundo os pesquisadores, as perdas de vagas em serviços e na construção podem estar associadas à elevada informalidade nesses segmentos. Motor da recuperação do mercado de trabalho na última crise, o setor informal, que em fevereiro crescia 3,3% na comparação com 2019, apresentou em março queda de 4%, patamar que saltou para -15,1% em maio e atingiu -17,6% em junho. Enquanto isso, a ocupação formal caiu 1,1% em março, foi a -6,7% em maio, mas registrou perda semelhante em junho (-6,9%). “As quedas são grandes em ambas as ocupações, mas, comparativamente, trabalhadores informais, mais fragilizados, sofrem mais, até porque programas de emprego do governo ajudam a impedir uma queda maior entre formais”, diz Peruchetti.
 
Com medidas de isolamento social em vigor e o medo do contágio, muitas pessoas que ficaram desempregadas na pandemia nem tentaram buscar recolocação e, por isso, não foram contabilizadas pelo IBGE como “desocupadas”, mas sim incluídas no contingente fora da força de trabalho. Em maio, a taxa de crescimento das pessoas fora da força de trabalho foi a maior registrada na série mensalizada pelo Ibre, com alta de 21,5% ante o mesmo mês de 2019. Em junho, porém, houve ligeira desaceleração, para 20,2%. “Indica uma leve volta das pessoas para a força de trabalho, mas ainda é uma elevação muito forte”, diz Peruchetti. 
 
Para os próximos meses, os pesquisadores afirmam ser possível que a taxa de desemprego apresente números ainda maiores, a depender da situação sanitária, do relaxamento da restrição social e, assim, da volta das pessoas à busca por emprego, normalizando o contingente na força de trabalho. Citando a Pnad Covid, pesquisa semanal divulgada pelo IBGE para acompanhar o mercado de trabalho na pandemia, Duque diz que “os dados não têm sido animadores em geração de emprego”. “Por enquanto, não temos indicação para julho de que haveria alguma recuperação em curso”, afirma.
 
Mais à frente, dizem, é provável que seja o trabalhador informal a puxar o mercado de trabalho, assim como vinha sendo observado após a recessão de 2014/2016. Nas contas do Ibre, a queda da população ocupada que trabalha sem carteira atingiu 24,5% em junho e, para o conta própria, 12%. 
 

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