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O Brasil pode parar na entrada de Santos

Fonte: Folha de S. Paulo / Paulo Alexandre Barbosa (*)



O Brasil sempre viveu da esperança de que dias melhores o aguardavam, mas sempre teve dificuldade de concretizar seu potencial. Os projetos que permitiriam o desenvolvimento do país não saem do papel. Sempre foi, como classificava há mais de 70 anos o austríaco Stefan Zweig, o país do futuro.
 
Na infraestrutura, um dos principais pilares para garantir a melhoria da competitividade brasileira no cenário internacional, as intervenções custam a ser executadas. O grande dilema é que, quando temos recursos, não temos projetos. Quando temos projetos, faltam recursos.
 
Os períodos cíclicos de desenvolvimento, que nos fazem permanecer em uma grande roda gigante, dificultam o planejamento de longo prazo e a efetivação de projetos estruturantes com potencial de garantir a transformação do país.
 
Há décadas são discutidos temas como a ligação entre Rio e São Paulo por trem rápido, novas rodovias para escoamento de safra, aprofundamento do calado do canal do porto de Santos, ampliação da malha ferroviária e uso de hidrovias para transporte de cargas.
 
Santos, que possui o maior porto do Brasil, responsável por 25% da balança comercial, vê de perto toda essa movimentação sem o poder de resolver o problema e sente os impactos negativos dessa ausência de políticas para o desenvolvimento.
 
A quantidade de veículos e de caminhões aumenta a cada dia, no entanto faltam as obras de acesso à cidade e ao porto. Recentemente, um terminal de armazenagem de combustíveis que opera no porto teve sua área atingida por um grande incêndio, considerado o maior do gênero no país –com prejuízos ambientais e financeiros gigantescos.
 
Uma das consequências foi a interrupção do acesso ao porto de Santos e os 6.000 caminhões que passam pelo local diariamente tiveram que suspender as atividades.
 
Os caminhões que chegam a Santos passam por um elevado com destino à região portuária. Esse acesso, antes utilizado em mão dupla, foi ampliado no final dos anos 1990.
 
Foi necessário mais de uma década de discussão para poder retirar o projeto do papel. Depois disso, a proposta chegou, com atraso de décadas, mas nada foi feito.
 
A lição que fica do episódio é a necessidade de investimentos e desenvolvimento de ações específicas para retirar do papel obras de infraestrutura no porto de Santos, que permitam a movimentação de cargas para escoamento da produção.
 
Desde 2013, a Prefeitura de Santos trabalha para o desenvolvimento de um conjunto de obras que permitam melhorar a entrada da cidade e garantir um novo acesso à região portuária. Para isso, foi celebrado um convênio com a participação dos governos municipal, estadual e federal para custear o projeto executivo, que está em fase final de elaboração pela Dersa.
 
A cidade já obteve financiamento de R$ 290 milhões para a execução das obras que devem ser iniciadas em breve. O governador do Estado, Geraldo Alckmin, participou das articulações para viabilizar projeto e recursos. O vice-presidente da República, Michel Temer, também se comprometeu. É preciso agora dar início às obras. O porto não é de Santos, não é do Estado. O porto de Santos é um patrimônio do Brasil.
 
É preciso melhorar acessos, ampliar a malha ferroviária e oferecer as condições para garantir a competitividade do produto nacional. Protagonizar investimentos é fundamental para manter o país na rota do desenvolvimento.


 
(*) Paulo Alexandre Barbosa, 36, é prefeito de Santos pelo PSDB
 

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