Artigos e Entrevistas

Criminalização da política?

Fonte: A Tribuna / Adilson dos Santos Junior (*)

Recentemente, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi agredido verbalmente no hospital israelita Albert Einstein quando visitava um amigo. Dias antes, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, teve de se retirar de um restaurante no bairro dos Jardins, onde foi violentamente ofendido.
 
Está se tornando algo normal, como se fizesse parte da paisagem, atacar políticos para impedir sua presença no mesmo ambiente, responsabilizá-los por tudo. Está ficando até perigoso para uma pessoa declarar que exerce um cargo público ou alguém declarar que tem preferência por este ou aquele político ou partido.
 
Será que vamos chegar ao ponto de criminalizar a política? Os políticos se tornaram “impuros”? Lembrando aos leitores que de modo algum estou fugindo das responsabilidades ao exercer um cargo para o qual fui eleito democraticamente para representar a população.
 
Acompanhando além das ruas, também as redes sociais se tornaram um lugar perfeito para destilar seu ódio, suas frustrações e responsabilizar todo aquele que, na visão do agressor, não concorda com seu ponto de vista, ou simplesmente por estar exercendo um cargo público.
 
Excetuando-se os períodos que o País estava sob ditadura (Estado Novo, golpe de 64), sempre se pode atuar politicamente, declarar suas preferências sem que isso resultasse em ofensas e, principalmente, agressões físicas, causando confrontos que em alguns momentos têm lembrado os conflitos na Irlanda do Norte, onde intolerância, intransigência, falta de diálogo, violência levaram o País, por 45 anos, a uma divisão que mesmo depois do acordo de paz de 1998 deixou cicatrizes impossíveis de serem preenchidas.
 
Claro que não temos no Brasil a divisão “católicos x protestantes” (que além de questões políticas) tanta dor causaram ao país europeu, mas me preocupa muito que estejamos criando condições para um acirramento e mesmo uma divisão de “políticos x não políticos” e como no caso do ex-ministro, não foi apenas quando ele já não ocupava mais o cargo. No mês de dezembro do ano passado, ele também foi ofendido com palavras pouco apropriadas para citar aqui.
 
Gostaria de frisar que a política não é um problema. Quando ouço alguém com o velho chavão “eu não gosto de política”, isso me preocupa, pois como cidadãos fazemos política no dia a dia em nossas casas, bairros, comunidades, etc. O que devemos é aprender a separar o “joio do trigo” (Mateus 13:24-30), como bem nos ensinou o Senhor Jesus, aprender a escolher aquele candidato que realmente está comprometido com o bem servir, preocupado em fazer sempre o que for necessário para a sua cidade, estado e país. E ceifar da política aquele que só vê seu bem-estar, quer apenas usar da política para atos escusos, estranha o que sejam políticas públicas destinadas a melhorar a qualidade de vida de quem precisa.
 
Ofender, hostilizar não vai melhorar o nível de nossos políticos, o que faz a diferença são nossas escolhas na hora de eleger aqueles que vão governar e que serão os fiéis depositários de nossos votos.
 
E por fim, não podemos deixar que um ser humano, um indivíduo, uma pessoa se torne apenas uma categoria justificando as ofensas.



(*) Adilson dos Santos Junior, radialista, vereador e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso na Câmara de Santos
 

 


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