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Portos: falta manutenção

Fonte: Pravda.ru / Mauro Lourenço Dias (*)



O trecho 1 do canal do estuário do Porto de Santos, que vai da Barra até o Entreposto de Pesca, na Ponta da Praia, voltou a ter 13,2 metros de calado, enquanto o trecho 2, que segue do Entreposto de Pesca até o Terminal de Passageiros, perdeu 20 centímetros, por decisão da Marinha do Brasil, responsável pela homologação dos limites. Isso significa que cada navio deixará de movimentar 140 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), o que quer dizer que seis mil toneladas deixarão de ser operadas nos terminais da região por embarcação.
 
No trecho 4, entre o Armazém 6 e a Alemoa, a situação é ainda pior: o calado foi homologado em 12,6 metros, apesar dos esforços das empresas que atuam no local, a Ecoporto Santos e a Brasil Terminal Portuário (BTP), que fizeram os serviços de dragagem a título de doação.
 
Tudo isso se dá porque, apesar do investimento feito pela Secretaria de Portos (SEP) no valor de R$ 1,6 bilhão por meio do primeiro Programa Nacional de Dragagem (PND-1), os resultados no geral não foram satisfatórios. O Porto de Santos, por exemplo, continua sem condições de receber a nova geração de navios construídos a partir de 2000, que exigem calado de 14,5 a 15 metros.
 
Em função disso, a SEP lançou o PND-2 que prevê investimentos estimados em R$ 3,8 bilhões. Até porque no desenvolvimento do PND-1 não houve muitos cuidados e muitos portos que não tinham cais reforçado acabaram sofrendo desmoronamentos. Ao mesmo tempo, faltou um trabalho permanente de manutenção para manter as distâncias conquistadas. Além disso, em alguns portos, há construções que beiram um século de existência e, feitas sobre bases empíricas para os dias de hoje, não suportam os efeitos do trabalho de dragagem.
 
No Porto de Santos, houve necessidade de se refazer o serviço de dragagem depois que uma ressaca assoreou o canal de acesso e reduziu a distância da lâmina d´água até a quilha do navio. O que se espera daqui para frente é que sejam evitados os contratempos que marcaram o PND-1, como quebra de contrato de manutenção em razão de serviços adicionais que surgiram no caminho e excessiva perda de tempo para se fazer nova licitação por parte da SEP.
 
Já no porto de Rio Grande-RS, os resultados da dragagem foram praticamente nulos e no de São Francisco do Sul-SC as obras não foram capazes de readequar a largura do canal nem de suavizar uma curva que dificulta a passagem de grandes cargueiros.   Por isso, espera-se que os resultados do PND-2 sejam melhores não só em Santos como nos demais portos.
 

 
(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
 

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