Artigos e Entrevistas

Emprego dura até a eleição

Fonte: Folha de S. Paulo / Vinicius Torres Freire (*)

Uma economia que definha para a quase estagnação neste ano ainda é capaz de criar empregos formais, sejam eles novos, sejam "formalizados", mais de 867 mil deles, nos últimos 12 meses, segundo os dados do registro do Ministério do Trabalho (Caged) divulgados nesta terça-feria.
 
Os registros em carteira vêm definhando, decerto, como quase tudo mais na economia brasileira. Ontem podíamos ler nos noticiários em "tempo real" que maio de 2014 foi o pior mês dessa estatística desde 1992. O nível de emprego na indústria é praticamente o mesmo de maio do ano passado. O ritmo de novos registros de emprego formal nos últimos 12 meses equivale a cerca de 60% da média dos três primeiros anos da economia sob Dilma Rousseff. A frente fria econômica é inegável.
 
De interesse também político, resta saber se a oferta de trabalho vai continuar a definhar no ritmo surpreendente do restante da economia.
 
De interesse econômico e social, resta saber se o governo vai continuar a oferecer os incentivos (menos impostos, subsídios) que em parte incentivaram as empresas a manter postos de trabalho ou até criá-los. O pacotinho econômico da Copa estendeu a vigência de alguns desses incentivos. Mas o governo não tem mais como oferecer nada, dada a pindaíba, o "aperto fiscal". Para piorar, o ano que vem será ainda pelo menos fraco.
 
Ainda assim, as estatísticas de emprego são de certo modo impressionantes. Repita-se que lidamos com uma economia que, entre 2011 e 2014, terá crescido menos de 2%, em média, ante os 4% dos anos lulianos. Este ano, de resto, tende a ser tão fraco quanto 2012, de crescimento quase nulo da renda nacional por cabeça (PIB per capita). Considere-se ainda que o ritmo de formalização do emprego e da criação de empregos com registro em carteira não poderia ser o mesmo dos anos da retomada econômica, a partir de 2004, por aí, quando havia muito desemprego e informalidade.
 
Nas grandes metrópoles, como já é mais do que sabido, o número de pessoas empregadas parou de crescer faz mais ou menos um semestre (na comparação com nível de emprego de cada mês do ano passado). No conjunto do país, ao menos até o primeiro trimestre, porém, o nível de emprego sobe de modo significativo, embora não saibamos bem que empregos são esses (a nova pesquisa nacional de emprego, a da Pnad Contínua, ainda não publica informações sobre salários).
 
No conjunto da obra, temos, em primeiro lugar, desemprego baixo devido a algum desalento ou opção (não há emprego para menos qualificados, ficou mais difícil achar vagas e as condições sociais melhores permitem que parte das famílias não precise procurar trabalho, preferindo ir para a escola ou cuidar da casa). Em segundo lugar, ao menos no conjunto do país, fora das grandes cidades do Sudeste em particular, há oferta de mais trabalho.
 
Economistas ponderados por ora preveem que esse estado de coisas vai começar a se deteriorar de modo mais visível, mas nada cataclísmico, a partir do terceiro trimestre, lá por outubro. Mas as condições econômicas (inflação, gasto do governo, confiança) para que tal situação prossiga pelo ano que vem parecem esgotadas. 

 


 
(*) Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)

Compartilhe