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Estatais: situação atual lembra década de 90

Fonte: Estrategista / André Rocha (*)

Estatais como Petrobras, Eletrobras e Telebras possuíam situação financeira frágil na década de 90. Tarifas represadas para auxiliar no combate à inflação fragilizavam o balanço dessas companhias. A história não serviu de lição. O governo Dilma passou a adotar estratégia semelhante. Com isso, uma mudança na condução da política tarifária pode ter efeito benéfico sobre as ações da Petrobras e sobre as da Eletrobras como ocorreu na década de 90. A agenda política passa a ser protagonista, fato visto pela última vez nas eleições de 2002.
 
A consultoria de investimentos Mercier1 perguntou a 45 gestores que juntos administram R$ 10,8 trilhões no mundo qual seria o impacto no mercado financeiro da eleição dos principais candidatos a Presidente: Dilma Roussef (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Caso Dilma fosse reeleita o impacto sobre o mercado financeiro seria negativo para 48% dos entrevistados. Por outro lado, a vitória de Aécio Neves ou de Eduardo Campos seria considerada positiva para o mercado financeiro para 92% e 82% dos participantes da pesquisa, respectivamente.

 
A última vez que uma eleição presidencial assumiu tanto protagonismo foi em 2002, quando o Ibovespa atingiu a mínima de 8.370 pontos as vésperas da eleição – em 16 de outubro. O mercado financeiro estava em pânico com a possibilidade de o Partido dos Trabalhadores implementarem no governo suas ideias econômicas. A “Carta aos Brasileiros”, compromisso público do partido com o respeito aos contratos e a política ortodoxa adotada quando assumiu o poder contribuíram para impulsionar a bolsa brasileira nos anos seguintes.
 
As tarifas de estatais como Petrobras e Eletrobras vêm sendo represadas de forma a controlar a inflação. O preço doméstico dos derivados de petróleo apresenta defasagem em relação ao preço internacional. Como o consumo precisa ser suprido com importação, a diferença de preços tem corroído os resultados da petrolífera. Já a Eletrobras, em troca da renovação antecipada da concessão de suas hidrelétricas, aceitou preços de energia mais baixos.
 
Essa situação de balanço frágil das estatais não é nova. Em meados da década de 90, as tarifas telefônicas da Telebras eram utilizadas como instrumento para segurar a inflação. O realinhamento tarifário se iniciou em 1995, indo até abril de 1997. As tarifas das ligações locais, bem como as assinaturas, foram reajustadas enquanto as tarifas internacionais caíram. Essa nova composição tarifária foi responsável pelo sucesso da privatização do Sistema Telebras em 1998 e por uma valorização expressiva das ações da estatal.
 
As tarifas da Eletrobras também apresentavam defasagem em relação à inflação o que prejudicava sua situação financeira. Após o governo aportar US$ 25 bilhões em 1993, as ações da estatal, que negociavam a 8% do valor patrimonial, passaram a valer 20% do patrimônio.
 
Por fim, as tarifas da Petrobras foram reajustadas no fim da década de 90 o que gerou crescimento consistente dos lucros da empresa. O pacote assinado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa reajuste do preço dos derivados de forma a aumentar a conta-petróleo, fundamental para obtenção do superávit primário.
 
Assim, uma nova política tarifária adotada pelo governo Dilma Roussef ou a eleição de candidatos mais simpáticos ao mercado financeiro como Aécio Neves ou Eduardo Campos podem ser catalisadores importantes para as ações de Petrobras (PETR3/PETR4) e de Eletrobras (ELET3/ELET6). O mercado financeiro, que vinha sendo indiferente às pesquisas eleitorais desde 2002, terá o trabalho de acompanhá-las ao longo desse ano.
 
1 Pesquisa citada na reportagem “Gestores de recursos mostram pessimismo com reeleição de Dilma”, Valor Econômico de 21,22 e 23 fevereiro de 2014.




(*) André Rocha, economista e advogado, é analista credenciado pela Apimec. Atua há mais de 15 anos na análise de ações
 

 


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