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Brasil está na idade da pedra em contêineres

Fonte: Monitor Mercantil / Sérgio Barreto Motta
 
 
Port Container International revela que o porto holandês de Rotterdam acaba de bater recorde de movimentação, ao receber o maior navio do mundo, o Mc-Kinney Moller, da Maersk. Foram realizados 215 movimentos por hora, nesse navio que pode transportar 18.270 TEUs (contêineres de 20 pés ou equivalente). Antes, o líder mundial era o Marco Polo, da CMA-CGM, de 16.020 TEUs. Rotterdam operou, em 2012, 2,5 milhões de contêineres, sendo que em novembro de 2014 irá inaugurar novo terminal, o de Maasvlakte, com oito guindastes de controle remoto – que seriam os primeiros do mundo com tal modernidade. Importante destacar que, apesar de todo esse sucesso, Rotterdam ainda está abaixo dos terminais-líderes do mundo, os asiáticos.
 
Esse supernavio é o primeiro da linha triple-E da Maersk; este ano, a Maersk receberá segunda unidade e até o fim de 2015, mais 15. Isso, sem dúvida, irá gerar mudanças no comércio mundial, pois apenas um navio desses pode transportar 111 milhões de pares de sapatos esportivos, quantidade que daria para suprir, em conjunto, toda a demanda de Holanda, França, Bélgica, Dinamarca, Noruega e Finlândia por alguns meses. Já imaginaram que excesso de oferta isso irá gerar em muitos produtos? Uma importação de massa de tomate, por exemplo, poderá inibir a produção interna de um país por muitos meses. E mais: em breve, a Maersk passará a segundo plano, pois os maiores navios de contêineres do mundo serão as unidades da China Shipping Container Lines (CSCL), com 18.300 TEUs.
 
Enquanto isso, como está o Brasil? Muito mal. A nova Lei dos Portos foi imposta por medida provisória, tão ruim que gerou 645 emendas, das quais 150 aceitas pelo relator. O país mal recebe navios com a metade da capacidade da linha Triple-E da Maersk. A nova lei permite que novos terminais usem pessoal contratado sem obedecer aos sindicatos, mas, para os atuais terminais, não só manteve o uso de estiva suprida pelos sindicatos, como fez com que essa obrigação fosse ampliada para trabalho em terra, a capatazia. Lá, modernidade e controle remoto e, por aqui, capatazia e estiva vinculada aos sindicatos.
 
Os males dos portos não decorrem do atual governo. Lula ainda teve o mérito de aprovar o programa de dragagem (I PND), mas o segundo se arrasta sem a mesma eficiência. Dilma atirou no que viu, mas acertou no que não viu, ao impor, de forma absolutamente ríspida, uma lei cheia de contradições que, segundo importantes advogados, fatalmente irá gerar acúmulo nos tribunais. E, ainda por cima, deixou de lado a voz dos usuários, ao transformar os Conselhos de Autoridade Portuária (CAPs) de deliberativos em consultivos, ao contrário do que sugeria um estudo do BNDES sobre a questão. Em resumo, mais uma vez o mundo se moderniza... e não espera pelo Brasil.
 
 

 

(*) Sérgio Barreto Motta, jornalista
 

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