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5,8 milhões de empregos informais destruídos vão da construção à agricultura

Fonte: Folha de S. Paulo
 
Setores como comércio, indústria, alojamento e alimentação também bateram recordes de perdas de postos de trabalho
 
A pandemia de Covid-19 destruiu 7,8 milhões de empregos no trimestre encerrado em maio, batendo recordes de perda de postos de trabalho e atingindo principalmente os empregos mais vulneráveis. Antes pilar que vinha sustentando o mercado no Brasil, o setor informal teve uma redução de 5,8 milhões de empregos, em colapso generalizado pelos setores.
 
A população ocupada bateu recordes negativos na construção, comércio, agricultura, indústria, transporte, alojamento e alimentação. Em contrapartida, alcançou sua maior marca na administração pública, saúde e educação, tudo reflexo das medidas restritivas impostas em todo o país desde março, que vem gerando impactos econômicos e sociais.
 
Antes da pandemia, a informalidade vinha batendo recordes e diminuia a taxa de desemprego no país. Após a Covid-19, o setor vem sendo o mais atingido pela crise e mostra que a desigualdade no Brasil vai ficando cada vez mais escancarada, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta terça-feira (30),
 
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, apontou a situação como alarmante para a economia brasileira. "Uma crise como essa tende a afetar de maneira muito mais célere a informalidade", analisou.
 
De acordo com ele, a restrição de mobilidade ocasionada pelo distanciamento social acaba afetando em maior parte os trabalhadores dos informais, que precisaram restringir sua mobilidade ou dependem de terceiros para exercer sua atividade. Os que possuem empregos formais, e melhores condições de trabalho, acabam sendo menos atingidos.
 
O colapso no setor informal levou a população ocupada a atingir seu menor número na série desde 2016. São 85,9 milhões de pessoas empregadas, sendo 32,2 milhões na informalidade, uma taxa de 37,6%, historicamente a pior da pesquisa. No trimestre encerrado em fevereiro, esse índice girava em 40,6%.
 
A perda de empregos foi alta nos mais variados ramos de atividade, batendo recordes na indústria (-10,1%), comércio (-11,1%), agricultura (-4,5%), construção (-16,4%), transporte, armazenagem e correio (-8,4%) e alojamento e alimentação (-22,1%). A Associação Nacional dos Restaurantes (ANR) aponta que a crise é sem precedentes no setor de bares e restaurantes.
 
"Antes da pandemia, eram 6 milhões de trabalhadores no país. Hoje são menos de 5 milhões, com cerca de 1,2 milhão de desligamentos. Nossa última pesquisa, da semana passada, revela que que 72% das empresas já promoveram demissões e 76% não conseguem crédito", disse Cristiano Melles, presidente da ANR.
 
Na construção, que vem conseguindo segurar empregos formais durante a pandemia, a perda atingiu principalmente aqueles que trabalham na informalidade.
 
"No Caged [que mede empregos com carteira], o desemprego de maio deu 18 mil de perda na construção. É menos de 1% do nosso contingente. Os atingidos são os informais. Ninguém está fazendo reforma em casa com a Covid, pois não quer ninguém lá, então parou esse tipo trabalho. No emprego formal as construtoras seguraram as pontas", apontou José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
 
Para Daniel Duque, pesquisador da área de economia aplicada do FGV-Ibre, o trabalhador informal está sendo penalizado porque é o que mais depende de aglomerações para realizar seus serviços.
 
"É natural que a gente veja em período de confinamento o setor informal sendo mais prejudicado. Essa crise é diferente de outras anteriores, que tiveram um impacto maior no setor formal, tem outra característica", analisou o pesquisador.
 
O impacto maior sobre o setor informal se reflete no rendimento médio real habitual da população, que atingiu R$ 2.460, a maior marca já registrada desde o começo da pesquisa, em 2012, um aumento de 3,6% com relação aos R$ 2.374 do trimestre anterior. Otto Nogami, professor de economia do Insper, acredita que a pandemia mostrou a fragilidade social brasileira.
 
"O governo deveria urgentemente pensar no aspecto retomada da atividade econômica, mas também pensar na fragilidade social. Pensar na saúde, na educação, em programas de geração de emprego. Esse seria papel do governo, dar um norte para a população em geral", analisou o economista. Para ele, a retomada da economia brasileira está distante e complexa.
 
De acordo com o IBGE, o desemprego em maio ficou em 12,9%, com 368 mil pessoas a mais na fila do emprego, mas existe um ruído relacionado à taxa em um cenário pandêmico. Outros indicadores bateram recordes e ajudam a analisar que a situação é bem pior do que indica o número dos desocupados.
 
A população desalentada, pessoas que desistiram de procurar emprego, chegou a 5,4 milhões, um aumento de 15,3% em relação ao trimestre anterior e de 10,3% comparado a maio de 2019. Os subutilizados —aqueles que estão empregados, mas gostariam de estar trabalhando por mais tempo— aumentaram 3,6 milhões (27,5%).
 
Entre os empregados do setor privado, o nível chegou ao menor da série, com menos 2,5 milhões (-7,5%) de pessoas no mercado, totalizando 31,1 milhões. O número de trabalhadores domésticos ocupados também despencou 1,2 milhão (-18,9%).
 
"Esses fatores demonstram que pessoas estão sensíveis a essas dores do mercado de trabalho", apontou Daniel Duque, da FGV. "Na medida que a pandemia perdurou, as pessoas desistiram de procurar emprego", acrescentou Otot Nogami.
 
Para Duque, a recuperação deve ser demorada e não se pode esperar que chegue ao nível pré-crise. Ainda deve existir uma retomada apenas parcial dos empregos informais.
 
"A economia estará menor, muitas pessoas vão deixar de participar de aglomerações mesmo após o período mais crítico da pandemia. Vamos recuperar rápido parte do setor informal, mas não totalmente. Além disso, tudo o que perdemos no formal vai demorar muito mais. Será mais dificil ainda voltar ao nivel anterior", declarou.
 
Na semana passada, a primeira divulgação mensal da Pnad Covid-19, edição extraordinária da pesquisa do IBGE criada para medir os efeitos do novo coronavírus sobre a população e o mercado de trabalho, mostrou que os brasileiros mais afetados pela doença são os pretos, pardos, pobres e sem estudo, que sentiram de maneira mais forte os impactos econômicos provocados pela pandemia.
 
Nesta segunda (29), dados do Caged mostraram que o mercado de trabalho brasileiro fechou mais 331,9 mil vagas em maio. Desde o início das medidas de restrição da pandemia do coronavírus (em março), o total dos postos fechados chega a 1,4 milhão.
 
Com o avanço da Covid-19 no Brasil, o país promoveu a partir de março o fechamento de bares, restaurantes e comércio como forma de combater a pandemia. Em paralelo aos impactos econômicos sentidos diretamente no aumento do desemprego, o Brasil já soma 58.385 óbitos causados pelo novo coronavírus e 1.370.488 registros da infecção.
 

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