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Coronavírus pode reduzir exportação brasileira para a China em até R$ 2,8 bi, diz agência da ONU

Fonte: Folha de S. Paulo
 
Braço para comércio internacional da ONU estimou impacto com base nos dados já divulgados para janeiro e fevereiro
 
A pandemia de coronavírus deve derrubar as exportações brasileiras de commodities para a China neste ano em até US$ 2,796 bilhões (cerca de R$ 15,4 bilhões), estima o economista Marco Fugazza, da agência para comércio internacional da ONU, a Unctad.
 
Embora o Brasil possa ter uma alta no valor exportado em grãos e outros produtos agrícolas brutos, como algodão, ela não deve compensar as perdas nas vendas de energia (petróleo bruto), minerais e alimentos processados (como açúcar).
 
No melhor dos cenários previstos por Fugazza, a perda das exportações brasileiras para a China será de US$ 939 milhões, ou pouco mais de R$ 5 bilhões.
 
Impacto nos valores exportados pelo Brasil para a China em 2020
 
Os cálculos do economista levam em conta os dados comerciais de fevereiro e fevereiro divulgados pela China, onde os efeitos econômicos da pandemia de coronavírus já foram sentidos no primeiro bimestre (o país asiático foi o primeiro a ser afetado, no final do ano passado).
 
“Como a China é o maior importador de uma quantidade significativa de produtos primários, a avaliação do impacto no país diz muito sobre possíveis tendências gerais e pode ajudar os formuladores de políticas a antecipar o que pode acontecer globalmente", diz o economista em relatório publicado nesta terça (2).
 
Commodities representam um quarto das importações da China, e um quinto das exportações mundiais de commodities é enviado para o país asiático, o que mostra o peso chinês no comércio internacional desses produtos.
 
Como comparação, a União Europeia absorve cerca de 1/5 das exportações mundiais de commodities, e os Estados Unidos, 9%.
 
Segundo os cálculos, as exportações globais de commodities para a China podem cair de US$ 15,5 bilhões (no melhor dos cenários) para US$ 33,1 bilhões (no pior) em 2020, tombo de até 46% em relação ao crescimento previsto antes da pandemia de coronavírus.
 
O economista analisa os fluxos projetados de importações chinesas com base em informações desagregadas divulgadas oficialmente. Os dados dos anos anteriores são do Mapa Comercial da ITC.
 
O cenário base pressupõe que que as importações bimestrais em 2020 variassem de acordo com o crescimento médio no mesmo período durante os três anos anteriores.
 
Para as estimativas, Fugazza considerou dois dois cenários. O primeiro considera que o impacto da pandemia se prolonga nos mesmos níveis do primeiro bimestre até o final de junho de 2020. No segundo, apesar desse efeito no primeiro semestre, há uma retomada mais acelerada da atividade no segundo semestre.
 
“Os cenários são relevantes para a primeira onda de contaminação no leste asiático, mas podem também capturar parte dos efeitos não diretos na Europa e nos Estados Unidos”, segundo o economista.
 
Na análise para cada um dos blocos de commodities, a Unctad prevê uma redução de entre US$ 1,1 bilhão a US$ 2,2 bilhões nas exportações brasileiras de petróleo bruto para a China, e de US$ 987 milhões a US$ 2,7 bilhões na exportação de minerais (com a alta de alumínio compensando parte da perda com ferro).
 
Em produtos agrícolas brutos, como algodão, deve haver alta de US$ 169 milhões a US$ 459 milhões, e em grãos, como milho e soja, o aumento pode ficar entre US$ 1,335 bilhão e US$ 2,42 bilhões. O economista calcula que as exportações brasileiras de alimentos processados sofram queda de US$ 327 milhões a US$ 721 milhões, por causa de choques significativos em carne e açúcar.
 
O economista alerta para fatores que podem afetar as previsões. O primeiro é que as variações nos fluxos de importação foram feitas apenas para o nível setorial, e não produto a produto.
 
Como as últimas variações no comércio não estão detalhadas para todos os países grandes exportadores de commodities, os números setoriais são usados ​​para simular os fluxos para cada um deles.
 
Uma terceira ressalva é que o modelo não considera o comércio exterior fora da China, pois ainda não há estatísticas suficientes para isso.
 
“Embora o sentimento predominante seja fortemente influenciado por projeções catastróficas, alguns produtos podem ter aumento de demanda”, diz o economista. Ele cita carvão, alumínio, soja e cevada.
 
Fugazza afirma que a publicação de dados e fevereiro a março pela União Europeia e pelos EUA permitirão uma avaliação mais precisa do impacto da pandemia no comércio internacional.
 
“Um grande ponto de interrogação permanece sobre os possíveis efeitos da Covid-19 na África Subsaariana e na América do Sul, em particular no Brasil”, afirma o economista.
 
Para ele, se as exportações de soja brasileira forem impactadas negativamente, haverá “importantes consequências nos mercados internacionais”.
 

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