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Domicílios sem renda crescem 6,5% no 1º tri

Fonte: Valor Econômico
 
 
Com o isolamento afetando trabalhadores informais, além do aumento de aposentadorias, o número de lares sem renda do trabalho bateu recorde no país no primeiro trimestre deste ano, superando o pior momento da recessão de 2014- 2016, mostra levantamento da consultoria IDados a pedido do Valor. Segundo a consultoria, que compilou microdados da pesquisa domiciliar do IBGE, o Brasil tinha 17,2 milhões domicílios em moradores com renda do trabalho, o que corresponde a 23,5% dos lares brasileiros. Os dois números são recordes da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.
 
Quando comparado ao quarto trimestre de 2019, o total de domicílios sem renda do trabalho cresceu em 1 milhão de unidades, 6,5% a mais. Por fatores sazonais, como a dispensa de pessoal temporário, o primeiro trimestre costuma registrar piora do indicador. Desta vez, porém, o ritmo foi recorde.
 
Dados do IBGE mostram que o número de trabalhadores ocupados (empregados, empregadores, trabalhadores por conta própria, servidores) recuou em 2,5% no primeiro trimestre deste ano, o equivalente a 2,3 milhões de pessoas a menos ocupadas. A maior parte foi de trabalhadores informais. Bruno Ottoni, economista da consultoria IDados, diz que os impactos da pandemia foram capturados apenas parcialmente nos dados do primeiro trimestre - o isolamento social começou na segunda quinzena de março e seus efeitos estão, portanto, diluídos no período. 
 
Mesmo assim, dos resultados do mercado de trabalho no primeiro trimestre, chama atenção a redução da população ocupada como serviços dométicos (-326 mil pessoas), em alojamento e alimentação (-308 mil pessoas) e nos chamados “outros serviços” (-211 mil pessoas), este que inclui manicures e cabeleireiros. São exatamente áreas concentradas de informais. Além disso, os efeitos da crise são evidentes no número de pessoas que deixaram o mercado de trabalho no período, ele explica. Dados do IBGE mostram que 1,851 milhão de pessoas migraram para a inatividade no primeiro trimestre, um volume atípico, o que pode estar relacionado com a pandemia. 
 
“Vários fatores sugerem que já pode ter impacto da covid-19 nos resultados do primeiro trimestre, como a própria queda da taxa de informalidade, em um momento que se poderia esperar um aumento dela”, disse o economista, autor dos cálculos. Para a diarista Andreia Candida Martins Farias, de 43 anos, a situação financeira após o avanço da covid-19 “piorou, e piorou muito”. Víuva, moradora do Morro do Adeus na zona norte do Rio, e mãe de oito filhos, ela viu sua renda mensal, originada de faxinas, diminuir de um salário mínimo e meio para zero. 
 
Seus patrões deixaram de procurar por seus serviços, seja por temor da doença, seja por falta de dinheiro devido à crise econômica causada pela pandemia. Andreia não sabe como vai sustentar os filhos menores, que dependem dela, caso a pandemia se prolongue muito.
 
Hoje, ela sobrevive de cesta básica doada pelos patrões, além de ajuda dos filhos mais velhos. Ela teme pelas filhas menores, como Quézia, de 13 anos. “Não quero que trabalhem, a não ser que seja por curso de Jovem Aprendiz, que respeita o horário escolar”, afirmou ela. A diarista se candidatou há um mês ao auxílio emergencial de R$ 600 do governo, mas o processo ainda encontra-se em análise. “Se não receber resposta neste mês, esse meu pedido de auxílio vai fazer aniversário junto comigo, no mês que vem”, reclamou a trabalhadora.
 
A proporção de lares sem renda do trabalho cresceu significativamente durante a recessão. No primeiro trimestre de 2012, o indicador era de 18,2% dos total de domicílios do país. No primeiro trimestre de 2018, a proporção atingiu 22,4% e, desde então, mantinha-se relativamente estável. Para Ottoni, a tendência é que o indicador piore mais nos meses seguintes, refletindo a perda esperada de posto de trabalho durante a pandemia. O auxílio emergencial de R$ 600 do governo deve amortecer parte do problema, ao mesmo tempo que pode prolongar a permanência de trabalhadores fora do mercado. 
 
“A pergunta é como as famílias vão se virar sem ninguém empregado se o isolamento se estender por um bom tempo. Elas vão depender do auxílio emergencial, vão usar os recursos que acumularam no passado, vão recorrer a amigo”, questiona o pesquisador. Ele diz que, além da covid-19, outros fatores podem ser responsáveis por esse nível recorde de domicílios sem renda do trabalho. Um outro fator é, por exemplo, demográfico - com o envelhecimento da população, simplesmente mais pessoas vivem de aposentadoria. 
 

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