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Limitação para buscar trabalho mascara parte do desemprego

Fonte: Valor Econômico
 
O desemprego deve crescer fortemente neste ano e atingir níveis recordes, mas parte dessa escalada pode ser mascarada nas estatísticas pela desistência das pessoas de buscar recolocação no mercado de trabalho, conforme já observado no primeiro trimestre. Divulgada na quinta pelo IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua mostrou que a taxa de participação ficou em 61% de janeiro a março, 0,9 ponto percentual abaixo do registrado nos últimos três meses de 2019. A taxa mostra a fatia das pessoas em idade para trabalhar que estão empregadas ou buscando emprego. Nos cálculos de Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), 3,2 milhões de pessoas devem migrar para a inatividade na média deste ano, reduzindo em 3% o contingente de pessoas na força de trabalho do país. 
 
O IBGE só contabiliza como desempregado quem efetivamente procura emprego, como pesquisar vagas pela internet e enviar currículos. Quem está sem emprego e não procura vaga não é considerado desempregado, e sim inativo. Economistas acreditam que as pessoas tendem a não procurar emprego durante a pandemia pela baixa oferta de vagas. Além de o isolamento dificultar a seleção de pessoal, a tendência é que as contratações sejam suspensas. Dessa forma, Duque avalia que a taxa de desemprego nacional poderá subir a 18,7% na média de 2020. “Sem esse movimento de desistência da procura, poderíamos esperar um crescimento maior da taxa, para 21,2%.” 
 
Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, concorda que o comportamento da taxa de desemprego ficará “um pouco distorcido” nos próximos meses. Para ele, a melhor medida para o mercado de trabalho será a massa salarial. Em seus cálculos, a massa salarial - soma de todos os salários de todos os trabalhadores - deve recuar 6,5% no segundo trimestre, uma perda de cerca de R$ 45 bilhões. Se confirmada, será mais uma queda recorde da série da Pnad, iniciada em 2012.
 
“O resultado de curto prazo depende do prolongamento do isolamento social. E parte dessa perda será compensada pelas liberações do auxílio temporário de R$ 600 que vem sendo distribuído pelo governo. Mas nem todo o dinheiro vai virar consumo, parte vai pagar dívidas”, diz Barbosa. Parte do aumento de inatividade já foi capturado no primeiro trimestre pela Pnad. A taxa de desemprego nacional foi de 12,2%, abaixo da mediana das expectativas do mercado, de 12,4%.
 
Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, explica que a taxa teria avançado para 13,5% sem a forte queda da força de trabalho no primeiro trimestre, de 1% frente ao fim do ano passado. Foi também uma variação percentual recorde na série histórica da pesquisa. “Foi um resultado terrível”, afirma Donato. “Considerando que a pesquisa é uma média móvel de três meses e o isolamento social só começou na segunda quinzena de março, a queda de 1% é muita coisa.” Esse não foi, contudo, o único efeito da pandemia sobre o mercado de trabalho no início de ano. Segundo Cimar Azeredo, diretor-adjunto de pesquisa do IBGE, a intensidade da perda de empregos no período teria extrapolado a sazonalidade.
 
A população ocupada recuou 2,5% no primeiro trimestre frente ao quarto trimestre do ano passado, o correspondente a 2,329 milhões de pessoas. É a maior queda percentual da série. “Os dados referem-se ao trimestre, mas um pedaço de março teve influência expressiva da covid-19. Pode ser um fator importante, embora não tenhamos como separar a sazonalidade do que é pandemia”, diz ele. 
 

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