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Passageiros de navio com infectados dizem que coronavírus foi 'ignorado' durante viagem

Fonte: G1 Santos
 
Três passageiros e sete tripulantes foram confirmados com Covid-19; outras 31 pessoas estão com suspeitas da doença.
 
 
Três passageiros que desembarcaram do navio Costa Fascinosa no dia 17 de março e, desde então, passaram a apresentar sintomas do novo coronavírus, conversaram com o G1, nesta quinta-feira (2), e relataram que, mesmo com a doença se espalhando no Brasil, o tema foi completamente ignorado durante a viagem e as aglomerações continuaram mesmo após o surgimento de casos suspeitos. A embarcação permanece em quarentena no Porto de Santos, no litoral de São Paulo.
 
Até o momento, outros três passageiros e sete tripulantes foram confirmados com Covid-19 e 31 pessoas estão com suspeitas de estarem infectados. Apenas casos urgentes podem ser desembarcados para assistência à saúde. A quarentena começou a ser contada novamente na segunda-feira (30), após o surgimento de casos sintomáticos a bordo.
 
A última viagem do Costa Fascinosa foi um mini cruzeiro de três noites, que partiu no dia 14 de março de Santos e deveria passar por Ilhabela e Balneário Camboriú, até o desembarque que ocorreria em Santos, no dia 17 de março. Porém, o percurso precisou ser alterado, uma vez que as prefeituras das cidades de passagem não permitiram o desembarque dos passageiros.
 
A corretora de imóveis Melissa Maffei, de 43 anos, viajou com seu marido e um casal de amigos, mas garante que esse cruzeiro nunca deveria ter sido realizado. Ela conta que, se cancelasse, perderia cerca de 30% do valor pago. Por isso, decidiram ir até o Porto na expectativa de que a empresa cancelasse o embarque. Mas, não foi isso que aconteceu.
 
“Durante o embarque, mediram a temperatura de todos os passageiros e deixaram entrar. Durante a viagem, não paramos em nenhuma cidade prevista no roteiro inicial. A bordo, seguimos a programação normal, todos vivendo normalmente, com festas e aglomerações, como se a doença simplesmente não existisse”.
 
De acordo com ela, a única medida de prevenção que presenciou foi a distribuição de álcool gel para os passageiros. Mas, procedimentos como usar um cartão para marcar bebidas, por exemplo, continuaram sendo realizados, fazendo com que várias pessoas tivessem contato físico com o mesmo objetivo, uma das formas de contágio do novo coronavírus.
 
“Estávamos com medo de não desembarcarmos, mas conseguimos sair normalmente. No dia seguinte, começamos a sentir dor de cabeça, cansaço, febre e falta de ar. Em quatro dias eu melhorei, mas meu marido está mal há 15 dias. Temos medo de ir ao pronto-socorro e nos colocar ou colocar alguém em risco. Sinto que a Costa e a Anvisa não estão preocupadas com os passageiros que desembarcaram. É um abandono”, finaliza.
 
O autônomo Emerson Fusquiani de Andrade, de 45 anos, também estava a bordo do Costa Fascinosa e, desde o desembarque, está com sintomas como febre, dores no corpo e diarreia. Ele correu para o Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, onde mediram sua temperatura, saturação e oxigenação. Ele recebeu uma medicação e foi orientado a fazer quarentena em casa.
 
“Falaram para ficar tranquilo, porque eu não tinha coronavírus. O médico explicou que, como não estava com insuficiência respiratória, eu deveria ficar em isolamento. Tomei os remédios por uma semana, a febre ia e voltava, mas comecei a sentir falta de ar. Então, decidi voltar no Irmã Dulce e expliquei que viajei no navio e estava com sintomas, mas ouvi a mesma coisa”.
 
O que deixou o autônomo mais indignado é que, no hospital, não fizeram nenhum exame nele, nem de coronavírus nem de sangue, para fechar um diagnóstico e conseguir fazer o tratamento mais apropriado. Já se passaram mais de duas semanas e ele continua com os mesmos sintomas.
 
“Até entendo não fazerem exame de coronavírus, mas eu preciso saber o que eu tenho. Antes eu subia 16 andares várias vezes e agora não consigo subir um andar sem ter falta de ar. É uma falta de humanidade, não posso passar 30 dias isolado e passando mal. É como se eu tivesse levado uma surra, não tenho forças”.
 
Em relação às aglomerações que ocorreram no navio, Andrade confirma que presenciou muitas festas durante a viagem, pessoas brincando juntas, tripulantes dançando com passageiros e todos muito próximos uns dos outros, mesmo com a pandemia do coronavírus.
 
A direção do Hospital Municipal Irmã Dulce esclarece que o paciente passou em consulta na unidade nos dias 19 e 27/03, sendo prontamente acolhido e recebendo toda a assistência necessária ao seu caso. O Hospital segue critérios e protocolos do Ministério da Saúde para assistência e coleta de exames de identificação de Covid-19, sendo que o paciente apresentou quadro clínico incompatível com o protocolo para a realização do exame.
 
Atualmente, o exame PCR pra Covid-19 só é colhido para pacientes graves, com saturação abaixo de 95%, um padrão de referência para triagem e identificação da gravidade do quadro clínico. De toda forma, o paciente recebeu toda a assistência necessária ao caso, sendo atendido, medicado e devidamente orientado para cumprir todo o tratamento em isolamento domiciliar, monitorando sinais e sintomas, com reforço de cuidados de higiene em casa e com familiares, mantendo inclusive distância de, pelo menos, um metro e meio entre pessoas.
 
Costa Cruzeiros
 
A Costa informa que os casos suspeitos só surgiram na semana passada, quando tripulantes foram desembarcados para serem hospitalizados. O navio Costa Fascinosa já estava em quarentena voluntária desde 17 de março. Também na semana passada, a Costa foi notificada de um caso confirmado de Covid-19 pela Autoridade de Vigilância de Florianópolis. O hóspede brasileiro esteve a bordo em cruzeiro no período de 14 a 17 de março. A companhia está em constante colaboração com as autoridades locais e alerta que não se pode confirmar que o contágio ocorreu a bordo.
 
"A saúde e a segurança dos hóspedes e da tripulação são a principal prioridade da Costa Cruzeiros. Desde o início da emergência da Covid-19, a empresa adotou rígidas medidas de saúde para o embarque em seus navios, como a medição de temperatura. A bordo, os procedimentos sanitários também foram reforçados para garantir a máxima higiene e segurança. O navio encerrou suas operações no país no dia 17 de março. A partir desse momento, as atividades de entretenimento a bordo foram paralisadas e todos os tripulantes estão cumprindo os protocolos de saúde, que prevê o isolamento em cabines individuais com varanda e serviço de quarto.
 

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