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Quase 80% dos desempregados não estão fazendo cursos de requalificação para conseguir uma vaga

Fonte: O Estado de S. Paulo
 
Nos últimos dois anos, aumentou a fatia de desempregados que não se requalificaram: era de 64% em dezembro de 2017 e subiu para 78,5% em dezembro de 2019
 
A grande maioria dos 11,9 milhões de brasileiros desempregados não está fazendo nenhum curso de capacitação profissional para conseguir voltar ao mercado de trabalho. O resultado, revelado pela pesquisa sobre o perfil do desempregado da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), chama atenção especialmente porque relatos recentes de executivos de grandes empresas e levantamentos feitos por consultorias mostram que sobram vagas em algumas áreas por falta de qualificação dos candidatos.
 
Nos últimos dois anos, aumentou a fatia de desempregados que não se requalificaram: era de 64% em dezembro de 2017 e subiu para 78,5% em dezembro de 2019, um avanço de 14,5 pontos porcentuais. Segundo Daniel Sakamoto, gerente projetos da CNDL, diante do grande número de cursos gratuitos oferecidos isso não poderia estar acontecendo. “Um do fator que está fazendo com que os desempregados não procurem esses cursos é, com certeza, a falta de informação”, argumenta.
 
A reportagem procurou a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia para saber qual é a oferta de cursos gratuitos de requalificação. O órgão, por meio de sua assessoria de imprensa,  sugeriu que a informação fosse buscada diretamente no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e no Serviço Social da Indústria (Sesi), ambos os serviços coordenados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Procurada, a CNI informou, por meio de sua assessoria, que oferece cursos demandados pelas indústrias e que não participaria da reportagem porque não conhecia o teor da pesquisa da CNDL/SPC Brasil.
 
O Estado também recorreu ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) para identificar a oferta de cursos de qualificação. O órgão informou, por meio de sua assessoria, que tem 661 unidades distribuídas em 27 estados  que oferecem educação profissional e tecnológica. “Em 2019, 135.879 estudantes estavam matriculadas em cursos de qualificação profissional e 501.112 em cursos técnicos nas instituições da rede. Para esses cursos, a procura normalmente é superior à oferta”, disse em nota o MEC, sem indicar quais são os cursos e como é possível ter acesso a eles.
 
Sindicatos ligados à União Geral dos Trabalhadores (UGT) estudam a possibilidade de oferecer cursos de qualificação a desempregados, mas no momento não têm recursos para essa finalidade. Segundo o presidente da UGT e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, muita gente vem ao sindicato para procurar emprego, mas poucos querem falar em qualificação.  “Eles estão desesperados e têm pressa.”
 
Desalento
 
Para Sakamoto, também a questão do desalento que atinge quem está muito tempo sem emprego – um ano e três meses, em média, de acordo com a pesquisa – desestimula o desempregado a buscar requalificação.
 
Para o economista da LCA Consultores, Cosmo Donato, a baixa procura por requalificação representa uma dificuldade maior para o brasileiro se recolocar, especialmente porque a economia se recupera lentamente e ter novas habilidade é um diferencial do candidato na hora de procurar emprego. O economista também ressalta que o mercado de trabalho passa por transformações estruturais  em razão da evolução tecnológica. “Estudo feito pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostra que mais de 53% da população ocupada no Brasil está sob risco de automação”, afirma Donato. Portanto, sem qualificação fica mais difícil voltar ao mercado seja por meio do emprego com carteira assinada ou como empreendedor do próprio negócio.
 
Outro resultado da pesquisa que reforça a falta de requalificação dos desempregados é que mais da metade (52%) não é chamada para entrevistas. “Quando o candidato  não é chamado, isso quer dizer que o seu currículo não foi considerado e pode indicar que é preciso que o desempregado se qualifique para tornar o currículo mais atraente”, observa Sakamoto.
 
A grande massa de desempregados tem, no máximo, o ensino médio completo, mostra a pesquisa. Na opinião de gerente da CDL, se o país tivesse um ensino médio profissionalizante, a população poderia romper a barreira do desemprego muito mais rápido. “Em outros países, o jovem sai do ensino médio com habilidades que valem para muitos empregos e no Brasil, ele mal sai com conhecimentos básicos de português, matemática, ciências.”
 

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