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Dia da Mulher: Comando com pulso firme

Fonte: O Otimista
 
 
Graduada em engenharia de produção, pós graduada em logística empresarial e com diversas especializações na área, Mayhara Chaves é hoje a presidente da Companhia Docas do Ceará. Das seis Companhias Docas existentes no Brasil, ela é a única mulher a presidir a instituição ligada ao Ministério da Infraestrutura.
 
No posto há sete meses e com apenas 35 anos, a gestora conta das dificuldades e prazeres de estar em um papel tão importante de liderança. Mãe e casada, ela considera organização e foco como principais ferramentas para conseguir conciliar o trabalho com a vida pessoal.
 
 O Otimista – Você sempre quis estar em um papel de liderança?
 
Mayhara Chaves – Eu acho que foi uma coisa que aconteceu, não foi tanto algo que eu busquei. Eu fiz engenharia de produção e eu sempre gostei de trabalhar na área de logística. Então eu fiz um MBA na área de logística e fiz um curso de logística portuária. Durante o curso um professor me convidou para ir para Brasília participar de um projeto, que foi o Plano Nacional de Logística Portuária. Lá eu morei 3 anos e eu conheci várias pessoas de todos os portos, foi quando eu entrei na área portuária e me apaixonei por portos. Eu sou do Espírito Santo e me convidaram para voltar para trabalhar nos portos tanto privados quanto públicos lá no Espírito Santo, e eu fui trabalhar para o Governo. Foi aí que iniciou minha trajetória em gestão. Eu comecei a fazer gestão de uma equipe pequena, eu era o ponto focal para toda a instalação de portos privados dentro do Espírito Santo. Foi daí que me chamaram para ser diretora de planejamento e desenvolvimento de uma Companhia Docas, aí a equipe cresceu. Para mim foi um desafio, eu tinha 3 pessoas e passei a ter 25 pessoas. Aí eu comecei a fazer um MBA de gerenciamento de projetos, que me ajudou muito nessa área de gestão. Ser gestor nada mais é que gerenciar vários projetos ao mesmo tempo, então isso me ajudou bastante. Então eu comecei a gerenciar várias equipes distintas com assuntos completamente diferentes, vários projetos, e depois que eu saí de lá dei um tempo, tive filho, sou casada, e logo depois me convidaram para vir aqui para a Companhia. Foi uma surpresa muito boa, porque eu nunca foi algo “eu fiz isso para seguir na área de gestão”, mas foi uma coisa que foi acontecendo na minha vida e que eu acho que eu estou fazendo bem.
 
O Otimista – Como é gerir a Companhia Docas do Ceará?
 
Mayhara Chaves – Eu acho que é ter uma equipe boa, eu tenho pessoas aqui do meu lado que me auxiliam o tempo todo. É ter equipe para ajudar. Eu sou uma pessoa muito organizada, gosto de ter meu horário de vir para trabalhar, de ter horário para estar aqui, de organizar minha agenda. A gente sozinha não consegue fazer muita coisa, precisa estar cercado de boas pessoas e pessoas que a gente confia para poder gerenciar isso tudo ao mesmo tempo.
 
O Otimista – Por que você se apaixonou pela parte portuária?
 
Mayhara Chaves – É um mundo diferente. Eu sempre gostei da área de transporte e da área de logística, e quando eu vi porto que é um negócio que não tem muita gente que conhece, são pouquíssimos cursos voltados para essa área. Então a primeira vez que eu fui fazer logística portuária, que eu vi aquele mundo, eu fiquei “nossa, o que é isso!”. Imaginar que 80% do PIB do país passa pelos portos, a movimentação do tanto de gente, do tanto de cargas que envolve todo esse processo para mim foi apaixonante.
 
O Otimista – Como que você se sente com essa responsabilidade?
 
Mayhara Chaves – Ao mesmo tempo que é prazeroso, é preocupante, porque é uma responsabilidade grande que a gente tem. É o tempo todo a gente lidando com pessoas, com números, com investimento. O que me move aqui é saber que eu estou lidando com dinheiro público. Saber que o que eu estou lidando é meu, é seu, é dele, é dela, é uma responsabilidade muito grande. Eu preciso fazer o melhor para o país, para o município, por todos, porque o que eu fizer aqui vai refletir para várias pessoas, mesmo que indiretamente. Hoje Fortaleza é o segundo maior importador de trigo do país, a gente é responsável por grande percentual do combustível do estado do Ceará, então eu preciso fazer o melhor do meu trabalho, ajudar que as pessoas que estão aqui trabalhando deem o melhor de si para poder proporcionar isso para as outras pessoas . O pãozinho que você come, por exemplo, o trigo dele provavelmente passou por aqui. Eu preciso zelar por um bem público, fazer o melhor uso desse bem público, que é gerar riqueza, renda, dar essa satisfação para as outras pessoas que estão aqui trabalhando. É preocupante, é uma responsabilidade forte, mas é uma responsabilidade que te dá um prazer muito grande, porque você ver a satisfação de um colaborador é uma satisfação também.
 
O Otimista – Como você consegue conciliar sua rotina, cuidando de filho e família e em um cargo de gestão?
 
Mayhara Chaves – A gente precisa ser muito organizada (risos). Meu filho tem 1 ano e 7 meses, é um bebê ainda. Então sou eu quem preparo a mochila dele para ir para a escola, eu faço questão de ir almoçar em casa para dar comida a ele, eu procuro organizar a minha agenda respeitando os meus horários em casa, mas acho que o principal é sempre estar bem focada. Quando eu estou aqui eu estou focada no meu trabalho, quando eu estou em casa eu estou focada no meu filho. Tem momentos que não dá, o Porto funciona 24 horas, tem momentos que a gente precisa estar ali com celular, mas são coisas que acontecem esporadicamente. Mas é ser organizada, é ter organização. Eu fui diretora de planejamento, a minha formação, meu trabalho é na área de planejamento, então eu procuro sempre planejar. Eu estou fazendo hoje o que tem para fazer para quarta-feira, mas eu já sei tudo o que tem para fazer para a semana que vem, tenho tudo planejado de como vai ser. Tento fazer tudo da melhor forma possível e estar focada naquilo que eu estou fazendo.
 
O Otimista – Como é ser mulher e estar na área de portos, existem outras mulheres nessa área?
 
Mayhara Chaves – A gente tem porto privado e público. Dentro de porto privado eu conheço só uma mulher presidente. Dentro de porto público nós somos duas. E a gente tem os presidentes das Companhias Docas, que são ligados ao Ministério de Infraestrutura, que só tem eu de mulher. É um meio muito masculinizado, as outras cinco Companhias Docas são comandadas por homens e eu sou a única mulher. Realmente é um mundo muito masculinizado até pela atividade. Eu fiz Engenharia, já é um mundo mais masculinizado. Mas acho que por toda a trajetória que eu passei e as outras mulheres também, de conhecimento, de trabalho e técnica, as pessoas respeitam muito a gente. Sempre me trataram de igual para igual. Eu brinco que a gente tem as vantagens de ser mulher porque em uma reunião sempre me dão a palavra primeiro. Tem um respeito por ser mulher, mas a cobrança é a mesma, para gente e para os homens. Não é porque a gente é mulher que vai aliviar em algum momento.
 
O Otimista – Existem desafios por essa questão do gênero?
 
Mayhara Chaves – Bastante. Por conta do gênero e por conta da idade. Acho que eu sou a mais nova dos presidentes, então às vezes quando eu chego em um lugar as pessoas já olham assim… Quem não conhece, né, porque a maioria do pessoal que já está no meio sabe da trajetória e já tem respeito. Mas quando chego em um lugar novo, em empresa nova, as pessoas têm aqueles 30 segundos de desconfiança até conversar, quando a gente começa a conversar esse preconceito vai se acabando. No começo eu enfrentava mais preconceito do que agora, eu fui diretora com 30 anos, fui subsecretária de Estado com 27. Então uma subsecretária de Estado com 27 anos é um negócio que você não vê, não é uma coisa que vê mulher, muito menos nova.
 
O Otimista – Como foi para você assumir essas posições tão nova?
 
Mayhara Chaves – Eu falo que foi sorte, mas eu acho que foi Deus, acho que Deus põe a gente no local que a gente precisa estar. Eu acho que por tudo que eu trabalhei, pelo conhecimento técnico, alguém enxergou isso em mim e viu a oportunidade de me convidar para ir para esses lugares. É resultado dos trabalhos anteriores que eu venho fazendo.
 
O Otimista – O que mudou desde que você assumiu a Companhia Docas do Ceará?
 
Mayhara Chaves – Eu assumi tem sete meses e muita coisa mudou. Uma das partes principais que a gente mudou foi a visibilidade da Companhia. Há sete meses a gente não tinha um setor de comunicação estruturado, ninguém sabia o que era a Companhia Docas, ninguém sabia o que o porto faz. A gente tá mudando um pouco essa visão, a equipe da companhia se tornou muito mais técnica, fiz grande mudanças de equipe, a gente dispensou umas 25 pessoas e contratou umas 20. A gente está fazendo uma mudança estrutural muito grande. Estamos trabalhando com transparência tanto para nossos colaboradores como para o meio externo. E a gente tem feito melhoria nos gastos públicos, tem feito mais com menos. A gente tá procurando focar em transparência, trazer pessoas boas e de mercado para trabalhar com a gente.
 
O Otimista – O que você tem como planos para o futuro?
 
Mayhara Chaves – A posição que eu tenho hoje é muito instável, eu sei que o que eu tenho hoje não é certo nem fixo e eu estou aqui por um tempo indeterminado, então eu procuro fazer o meu melhor todos os dias. O futuro a Deus pertence. Sempre procurei fazer o melhor todos os dias para que eu tenha um futuro bom. Eu sou extremamente organizada, eu penso, claro, quando eu sair daqui onde eu vou estar, eu gostaria de estar em algumas posições de gestão, mas eu sei que isso é resultado do meu trabalho. Gostaria de estar em porto, com certeza, envolvida com o meio portuário, mas o futuro depende muito do que eu faço hoje. Se eu fizer um bom trabalho hoje eu vou estar em um bom lugar nos próximos anos.
 

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