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Alta recente da inflação interrompe melhora da renda dos trabalhadores

Fonte: Valor Econômico
 
 
A inflação mais alta dos últimos meses corroeu parte dos salários neste início de ano. A renda real habitualmente recebida pelos trabalhadores ficou estável no trimestre móvel de novembro a janeiro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, no valor de R$ 2.361. A pausa ocorreu após quatro meses de ganhos reais, ainda que modestos. De acordo com economistas, a estabilização recente é explicada em parte pela aceleração da inflação nos últimos meses do ano passado, quando os preços da carne tiveram forte alta, refletindo a maior demanda da China, após uma peste ter reduzido o plantel de suínos no país. A inflação medida pelo IPCA atingiu 4,19% em janeiro deste ano, acima do centro da meta de inflação para 2020 (4%).
 
A boa notícia é que o impacto das preços das proteínas sobre a inflação tem se confirmado como um evento transitório. Em fevereiro, a prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA-15, mostrou uma queda de 5% do preço das carnes. A expectativa é que, neste mês, a inflação siga em desaceleração e feche o ano próxima de 3,20%. Para a LCA Consultores, a renda real de todos os trabalhos deve encerrar 2020 com crescimento real de 1,5%, refletindo a melhor composição do emprego. Para Cosmo Donato, economista da LCA, esse crescimento, ainda que relativamente modesto, vai refletir a melhora da composição do emprego de uma maneira abrangente “O trabalho por conta própria começa a refletir cada vez menos o emprego precário e mais essas novas relações de trabalho, como aplicativos de transporte, que remuneram um pouco melhor” , afirma Donato, para quem o rendimento também deve mostrar algum  crescimento neste ano com a recuperação do emprego com carteira assinada.
 
Para Thiago Xavier, da Tendências, a renda deve crescer na faixa de 1% neste ano. Para ele, o incremento não será maior por causa da lenta recuperação da atividade econômica e da ociosidade da economia, que limita o poder de barganha de quem está inserido no mercado de trabalho. “Existem 26 milhões de trabalhadores subutilizados” , lembra ele. Dados do boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), também endossam a falta de poder de barganha neste início de ano. Apenas 25,2% das negociações salariais coletivas resultaram em ganhos reais para os trabalhadores em janeiro. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) prevê aumento mais tímido da renda em 2020, de apenas 0,7%. "Os resultados da renda dos últimos meses já mostravam algo tímido em relação à recuperação, quando comparados aos últimos anos" , diz Daniel Duque, pesquisador do Ibre.
 
Apesar da estabilidade da renda no início deste ano, a massa salarial brasileira (soma das rendas) cresceu e atingiu R$ 217,4 bilhões no trimestre móvel encerrado em janeiro, 2,2% acima do mesmo período do ano passado. Isso foi possível devido ao maior número de pessoas ocupadas (empregados, empregadores e servidores, por exemplo). Dados divulgados no fim da semana passada pelo IBGE mostraram que a taxa de desemprego nacional foi de 11,2% no trimestre móvel até janeiro, melhor do que a mediana dos analista (11,3%) e também que o resultado de um ano antes (12%). Mas os economistas avaliam que essa surpresa se deveu mais pelo aumento da inatividade (redução da busca por emprego) do que pela geração de vagas. A população fora da força de trabalho (que não estava empregada nem procurando emprego, com 14 anos ou mais de idade) registrou aumento de 1,3% no trimestre móvel até janeiro, com 873 mil pessoas indo para a inatividade. Esse contingente é um recorde para a pesquisa domiciliar do IBGE, iniciada em 2012.
 
Segundo Adriana Beringuy, analista do IBGE, a saída de pessoas para a inatividade neste início de ano pode estar ligada à sazonalidade do período. “Não é um movimento inédito, embora tenha sido mais intenso neste ano” disse a especialista, acrescentando que parte desses indivíduos pode ter voltado a procurar emprego em fevereiro ou março. Os setores de comércio e transportes lideraram as contratações no trimestre móvel até janeiro, ao passo que a administração pública e agricultura foram os que mais dispensaram, de acordo com os dados do IBGE.

 

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