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Número de greves tem queda de 23% em 2019

Fonte: Valor Econômico
 
Após recuo de 36% até junho, paralisações caíram 3% de julho a dezembro.
 
O ano de 2019 se encerrou com a realização de 1.118 greves, queda de 23% em relação às 1.461 paralisações feitas por trabalhadores em 2018, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Embora expressivo, o recuo se atenuou em relação à retração de 36% no número de greves registradas no primeiro semestre do ano passado, na comparação com igual período do ano anterior. No segundo semestre, o recuo foi de apenas 3%.
 
Na primeira metade do ano, foram feitas 577 greves, contra 901 em igual período de 2018. No segundo semestre, foram 541 paralisações, ante 559 no ano anterior.
 
Para especialistas, a estabilização da economia, a adaptação dos sindicatos à nova realidade financeira após a reforma trabalhista e o retorno à mobilização do setor público, passado o início do novo governo, explicam a atenuação da queda ao longo do ano passado. O ano de 2020 começa com greves de petroleiros, da Dataprev e professores chamando paralisação para 18 de março, num sinal de que este ano pode ser mais agitado para a mobilização do setor público.
 
Segundo o Dieese, foram realizadas 566 greves na esfera pública em 2019, ante 792 em 2018, queda de 29%. No setor privado, foram 548 paralisações no ano passado, recuo de 17% em relação a 2018. Apenas no primeiro semestre, na comparação anual, as baixas eram de 46% e 22%, respectivamente.
 
“As coisas podem estar se assentando, com aquele primeiro momento de desespero passada a reforma trabalhista, com a redução do financiamento sindical, sendo aos poucos superado”, avalia Rodrigo Linhares, técnico do Dieese. Outro ponto, segundo ele, é que a oposição parece ter começado a “tomar pé”, passados os primeiros meses de governo Jair Bolsonaro.
 
“A oposição agora talvez esteja sentindo mais a possibilidade de se movimentar e começar novos enfrentamentos”, diz Linhares, citando as mobilizações no setor público contra reestruturações de carreira e venda de estatais.
 
Para o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, outro fator que pode ter contribuído para a maior mobilização no segundo semestre de 2019 foi a melhora da economia no período. “A conjuntura econômica parou de piorar, isso tira aquele desconforto que é imobilizador”, diz Vargas Netto.
 
O técnico do Dieese destaca, porém, que a fraqueza da economia ainda é evidente nas características das greves realizadas no ano passado. Das mobilizações contabilizadas, 82% tiveram caráter defensivo, contra o descumprimento de direitos ou pela simples manutenção de condições vigentes.
 
Dentre as reivindicações, o atraso de salários, férias, 13º ou vale continua sendo a mais relevante, presente em 43% das paralisações, seguida pelo reajuste dos rendimentos, com 34%. Também ganharam espaço no ano passado greves pela melhoria dos serviços públicos e contra as reformas da Previdência e administrativa (20%).
 
Por setores, os trabalhadores de serviços realizaram a maior parte das greves da esfera privada em 2019, com 78% do total. Rodoviários do transporte coletivo urbano, trabalhadores da varrição e coleta de lixo, empregados em limpeza e serviços gerais, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem realizaram a maior parte dessas mobilizações.
 
“Para além de nos perguntarmos por que o número de greves diminui, podemos nos perguntar por que as greves continuam, mesmo numa situação tão radicalmente adversa”, diz Linhares. “Muitas dessas greves têm a ver com a crise fiscal do Estado e a terceirização de funções, que cria uma categoria de trabalhadores com salários ‘atrasáveis’.”
 
O ano de 2020 começou agitado para as mobilizações de trabalhadores. A greve de funcionários da Petrobras chega à sua terceira semana e professores de Minas estão de braços cruzados. Já pararam neste ano os funcionários da Dataprev, docentes de Fortaleza e caminhoneiros de Santos, que fizeram protesto na segunda-feira, 17.
 
Somente em janeiro deste ano, o sistema de acompanhamento de greves do Dieese contabilizou a realização de 74 paralisações, cinco a mais do que as 69 greves realizadas em janeiro de 2019.
 
“As reivindicações que mais cresceram de janeiro de 2019 para janeiro deste ano foram aquelas de protesto político, contra privatizações, a reforma na carreira dos servidores e a política econômica”, diz Linhares. “Com a poeira assentada, mais clareza quanto às novas condições políticas e econômicas, e os sindicatos já superando a fase mais traumática da diminuição de financiamento, é possível que haja manutenção ou até crescimento da mobilização neste ano”, avalia.
 
Ele lembra ainda que, neste ano, o piso nacional dos professores foi reajustado em quase 13%, o que pode desencadear greves em Estados e municípios que tenham dificuldade em repassar a alta. “Estamos em processo de mobilização para que a lei seja aplicada em cada município e Estado deste país”, diz Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
 
Vargas Netto é menos otimista quanto às perspectivas de mobilização em 2020. “O quadro criado a partir da reforma trabalhista não mudou essencialmente”, afirma o consultor. “Desde 2017, o quadro é de queda do ímpeto grevista, devido à própria recessão, que apenas agora parou de piorar, da perda de receitas dos sindicatos e das agressões à capacidade de mobilização das entidades.”
 
As greves no Brasil começaram a crescer em número a partir de 2012. Naquele ano, foram registradas 879 paralisações, contra 555 em 2011. Em 2013, houve novo salto, para 2.057 greves naquele ano, também marcado pelos protestos de junho. O maior nível da série foi registrado em 2016, com 2.157 paralisações. Desde o ano seguinte, o número de greves está em queda, mas ainda acima da média histórica.
 

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