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Cenário deve combinar mais vagas formais e queda lenta do desemprego

Fonte: Valor Econômico
 
Expectativa é que taxa da desocupação caia de 12% neste ano para 11,4% no ano que vem
 
O mercado de trabalho deve continuar em lenta recuperação em 2020, com maior geração de vagas com carteira assinada, graças à aceleração esperada da atividade econômica. Apesar dessa melhora projetada, a volta de pessoas que haviam desistido de procurar emprego ao mercado e a produção industrial ainda contida pelo cenário externo devem ser fatores limitantes para uma queda mais acelerada da desocupação.
 
A taxa média de desemprego deve cair da casa de 12% em 2019 para cerca de 11,5% em 2020. Já um número abaixo de dois dígitos só deve ser visto depois de 2021. Os dados mais recentes mostram que ainda há 12,4 milhões de desempregados no país, três anos após o fim da recessão, além de 4,6 milhões de desalentados.

 
A renda média deve crescer no próximo ano, devido à melhor composição do mercado de trabalho, com peso maior das vagas formais. Mas a dificuldade de barganha de salários em meio ao desemprego e subocupação ainda altos deve pesar para que a melhora também aqui seja modesta.
 
A mediana de 29 estimativas de consultorias e instituições financeiras colhidas pelo Valor Data aponta para uma taxa de desemprego média de 12% neste ano, caindo para 11,4% em 2020. Para a geração de vagas formais, a mediana de 15 projeções indica abertura de 500 mil empregos em 2019 e 805,5 mil no ano que vem - em 12 meses até outubro deste ano, foram geradas 491,9 mil vagas.
 
“Não esperamos uma queda muito acentuada da taxa de desemprego, mas uma melhora da composição, da qualidade do mercado de trabalho”, diz Cosmo Donato, economista da LCA Consultores. A consultoria projeta taxa de desemprego média de 11,9% em 2019, caindo a 11,4% em 2020. Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a estimativa é de crescimento de 1,1% este ano e 2,3% em 2020.
 
A taxa de desemprego ficou em uma média de 12,3% em 2018, ano em que foram geradas 421,1 mil vagas com carteira assinada, conforme a série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) sem ajuste para inclusão de dados enviados com atraso pelas empresas. Em outubro, dado mais recente disponível, a taxa de desocupação estava em 11,6%.
 
“Com a melhora da atividade, é natural que muitas pessoas retornem ao emprego com carteira assinada”, diz Donato. “Mas essa recuperação não será tão expressiva ao ponto de recuperar todos os postos fechados e ainda teremos muitas pessoas procurando emprego ou em empregos informais, enquanto uma parcela migra para a carteira assinada.”
 
Para Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, vários são os fatores que limitam uma recuperação mais forte do mercado de trabalho no próximo ano. “A indústria deve ter mais um ano difícil, em parte pela dificuldade de exportar”, afirma. “Pensando na renda do próximo ano, pesam o reajuste limitado do salário mínimo e o fato de que ainda tem muita gente desocupada, subocupada ou desalentada. Nesse contexto, é difícil barganhar grandes reajustes salariais.”
 
Na terça, o Congresso aprovou o Orçamento público para 2020, com a previsão do salário mínimo em R$ 1.031, abaixo da previsão inicial de R$ 1.040 feita em abril, devido à menor expectativa para a inflação este ano. O valor definitivo ainda precisará ser fixado pelo governo. Em 2019, o salário de referência foi de R$ 998.
 
A Tendências projeta alta de 0,4% da renda média este ano e de 1% em 2020. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), por sua vez, vê avanço de 0,4% em 2019 e 0,7% em 2020, graças ao aumento do emprego formal.
 
“A população ocupada formal é bem mais sensível à atividade econômica do que a informal”, diz Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV. “Como esperamos um crescimento ao redor de 2% [do PIB em 2020], isso vai puxar o emprego formal, fazendo a renda melhorar em relação a 2019.”
 
Apesar dessa melhora da renda, a massa de rendimentos - soma dos salários recebidos pelos trabalhadores - deve crescer 2,2% em 2020, praticamente estável em relação ao avanço de 2,3% estimado para 2019, prevê Duque. “O que muda é que esse crescimento no próximo ano vem menos do avanço da população ocupada e mais da renda”, diz.
 
Para Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, o programa Verde Amarelo, apresentado em novembro pelo governo com a intenção de estimular o emprego entre jovens, não deverá ter contribuição significativa para o mercado de trabalho em 2020.
 
“Não temos em nosso cenário contribuição positiva para o emprego vinda desse programa, primeiro porque precisamos ver se vai passar ou não, e o segundo ponto é que pode haver impacto, mas não significativo em termos macroeconômicos, porque é para um grupo específico e temporário”, afirma Barbosa.
 
O banco estima que a taxa de desocupação média deverá ser de 12% em 2019, caindo a 11,7% em 2020 e 11,2% em 2021. Para o economista, o desemprego só deve voltar a ficar abaixo de 10% ao final de 2023. Mas uma taxa como os menos de 7% vistos antes da crise não está no horizonte.
 
A avaliação é unânime entre os economistas ouvidos pelo Valor. “Em 2014, estávamos abaixo do nosso equilíbrio, com estímulos fiscais muito fortes e que se mostraram insustentáveis”, diz Duque. Segundo ele, uma redução do nível de desemprego de equilíbrio - que não gera inflação - exigiria medidas de aumento da produtividade e maior flexibilização do mercado de trabalho. “Não há nenhuma garantia de que conseguiremos avançar nesta direção pelos próximos dez a 20 anos, então é difícil cravar que chegaremos um dia a ter capacidade estrutural de sustentar um nível de desemprego tão baixo.” 
 

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