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Novo mundo do trabalho

Fonte: Folha de S. Paulo / Ricardo Patah*
 
Sindicatos têm condições de qualificar profissionais
 
 
Ainda não é o caos. Mas estamos próximos. O novo mundo do trabalho proporcionado pela 4ª Revolução Industrial está invadindo quase todos os continentes. Nos países desenvolvidos, só se fala nisso. A China, por exemplo, já tem 500 mil robôs e uma taxa de desemprego de 3,1%. O Brasil enfrenta um alto índice de desemprego, acima de 12,6%, e tem apenas 12.373 robôs.
 
O fato de automatizar não significa reduzir empregos. Surgem novas ocupações. E a chave para resolver esse problema é a qualificação profissional. Estamos muito atrasados. Ainda não temos o básico, como os marcos regulatórios da era digital e a agência encarregada de implementá-los. E o pior é que, no horizonte de alguns políticos, já aparece a eleição presidencial de 2022. Não são as modificações que estão revolucionando o trabalho. O governo federal está mais preocupado em desqualificar possíveis inimigos políticos do que em reanimar a economia, que, a partir da recessão de 2014, perdeu 8,2% do PIB. E deixou um exército (12,6 milhões) de desempregados, com seus dramas diários.
 
As reformas feitas até agora, especialmente a trabalhista, prometiam criar vagas, mas só tiraram direitos dos trabalhadores e aumentaram a informalidade, além da precarização de muitas atividades. A discussão sobre a reforma sindical é extemporânea e inútil. O sindicalismo é parte da democracia, assim como o Parlamento e os partidos políticos.
 
Desde 2015, nós, da UGT (União Geral dos Trabalhadores), defendemos a reforma tributária, o verdadeiro motor do desenvolvimento. Quando ela for feita, o país dará um salto econômico muito grande. Segundo cálculos de especialistas, precisamos qualificar cerca de 10,5 milhões de trabalhadores para o setor industrial, entre 2019 e 2023, dos quais três quartos já estão empregados, e o restante precisa se preparar para disputar as vagas oferecidas pela nova tecnologia.
 
Corremos o risco de, com a retomada da economia, não termos mão de obra preparada para as novidades que virão. Hoje, a previsão é que a falta de qualificação profissional deixe em aberto 70 mil empregos anuais, até 2024, nas áreas de tecnologia de informação e comunicação de grandes empresas de tecnologia. Muitas delas correm o risco de não serem preenchidas.
 
Neste ano, deveremos ter 3.000 startups em funcionamento. Todas essas empresas precisam de gente especializada em ciências de computação. Estamos falando de qualificação profissional de alto gabarito. Um grave problema: não há mão de obra preparada. 
 
Nos setores de comércio e serviços, que exigem menos qualificação, a situação é ainda pior. A UGT fez, nos últimos dois anos, quatro mutirões de emprego em parceria com cerca de 50 empresas médias e grandes. Oferecemos 22 mil vagas, compareceram cerca de 60 mil pessoas, mas só conseguimos preencher pouco mais de 10 mil por causa da falta de qualificação dos candidatos.
 
Dentre os problemas encontrados pelos selecionadores estão dificuldades de se expressar, de fazer contas, poucos anos de estudo e, especialmente, falta de conhecimentos básicos em informática e inglês.
Por estarem próximos dos trabalhadores e por conhecerem as necessidades do mercado de trabalho, os sindicatos têm condições de fazer a qualificação profissional. O dinheiro poderia vir do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), do Sistema S.
 
É só começar. Não há mais tempo a perder.
 
*Ricardo Patah, formado em direito e administração, é presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
 

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