Notícias

Brasil tem recorde com 41,4% dos trabalhadores na informalidade

Fonte: O Estado de S. Paulo
 
Segundo dados do IBGE, 38,8 milhões de brasileiros trabalhavam sem carteira assinada ou por conta própria no trimestre encerrado em setembro
 
A taxa de desemprego ficou estagnada em 11,8% no trimestre encerrado em setembro, mesmo patamar registrado nos dois meses anteriores. Quatro em cada dez trabalhadores ainda estão informais. Outras 12,5 milhões de pessoas buscam emprego. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgados ontem pelo IBGE.
 
O número de pessoas trabalhando é o maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. No entanto, o mercado de trabalho ainda mostra apenas melhora quantitativa do emprego, e não qualitativa. O País alcançou o ápice de 38,806 milhões de trabalhadores informais, o equivalente a uma taxa de informalidade de 41,4%, a mais elevada já vista. A pesquisa trouxe novos recordes no total de pessoas atuando por conta própria ou sem carteira assinada no setor privado.
 
Como consequência, a proporção de trabalhadores ocupados contribuindo para a Previdência Social caiu a 62,3% no trimestre encerrado em setembro, menor patamar desde 2012.
 
“Está longe de ter recuperação de carteira, de ter aumento de contribuição previdenciária e todos os desdobramentos que isso pode trazer para o mercado de trabalho”, avaliou Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
 
Um dos desdobramentos do avanço da informalidade é a falta de vigor da renda do trabalhador. A massa de salários em circulação na economia cresceu, mas porque há mais gente trabalhando, não há ganho salarial.
 
“Esse tipo de vaga (informal) tem baixa produtividade e baixos salários, o que não gera tanto impulso para a economia. Enquanto o rendimento não subir, a população fica inibida para consumir mais. Pode comprar mais por recursos como FGTS, mas não por renda extra”, justificou Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
 
Renda e consumo
 
“Menor rendimento está associado a menor consumo, que pode estar associado a menor demanda da produção, e por aí vai”, corroborou Adriana Beringuy, do IBGE.
 
Desde 2017, o mercado de trabalho conseguiu recuperar o movimento de sazonalidade, ou seja, há aumento na taxa de desemprego no início do ano, mas recua conforme avançam as contratações no decorrer dos meses, descendo ao menor patamar no encerramento do ano. Embora essa retomada da sazonalidade seja positiva, a melhora ainda é insuficiente para reverter a deterioração passada e fazer a desocupação retornar ao nível pré-crise, apontou a técnica do IBGE.
 
“Apesar de a desocupação estar caindo, você ainda permanece com o dobro desse contingente em relação ao menor valor, que foi em 2013. A gente não tem como precisar quantos trimestres são necessários para voltar a esse patamar”, observou Beringuy.
 
A população desempregada alcançou 12,515 milhões no terceiro trimestre de 2019. O resultado é mais que o dobro do piso registrado no quarto trimestre de 2013, antes da crise, quando havia 6,013 milhões de desocupados no País. Considerando toda a população subutilizada, que inclui os desalentados e subocupados, ainda falta trabalho para mais de 27,5 milhões de pessoas em todo o País.
 
Os resultados da Pnad Contínua de setembro fizeram a Tendências Consultoria Integrada aumentar sua projeção para a taxa de desemprego média deste ano, de 11,8% para 11,9%, enquanto reduziu a estimativa de crescimento médio da massa de rendimentos, de 2,2% para 2,1%.
 
O banco MUFG Brasil espera que a taxa de desemprego continue diminuindo em ritmo lento, diante da tendência de que as pessoas que estão hoje em situação de desalento voltem a procurar uma vaga, fazendo aumentar a população desempregada. 
 
“Esperamos uma melhoria mais sólida na criação de empregos registrados e aumento do salário real a partir do próximo ano, e este é um dos principais fatores por trás da nossa expectativa de crescimento de 2,8% do PIB em 2020”, previu a equipe econômica do MUFG Brasil, em relatório.
 
'Trabalho do domingo a domingo'
 
Há três meses, o jovem Rafael Marcelino, de 28 anos, perdeu o emprego formal no porto do Rio. A saída que encontrou para manter alguma renda foi se inscrever num aplicativo para fazer entregas de refeição em domicílio. “Hoje, estou inscrito em três aplicativos de entregas. Trabalho mais de dez horas por dia, de domingo a domingo. No emprego anterior, era de segunda a sexta, de 9h às 17h. Não dá para viver mais. Não sobra tempo.”
 
'Já teve tempos melhores. Hoje sou só eu e Deus'
 
Quando o filho completou um ano de vida, Adriana Freire, de 36 anos, precisou voltar ao mercado de trabalho para garantir o sustento da família.
 
Sem emprego e tendo um bebê como dependente, a solução foi se virar por conta própria. Já faz um ano que ela aluga uma carrocinha para vender cachorro-quente no centro do Rio. “Só eu e Deus”, relata Adriana, que trabalha sem ajudantes.
 
O último emprego com carteira assinada que Adriana teve foi há quase uma década, em 2010, quando era auxiliar de serviços gerais. 
 
Embora goste de trabalhar como autônoma, ela reclama que o movimento de consumidores já foi maior.
 
“Já teve tempos melhores”, queixou-se.
 

Imprimir Indicar Comentar

Comentários (0)

Compartilhe