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6 em cada 10 cidades criaram vaga formal de 2014 a 2018

Fonte: Valor Econômico
 
Grupo de 3.307 municípios respondeu por 642 mil empregos com carteira assinada e ajudou a reduzir impacto da crise no mercado de trabalho brasileiro no período


 
A recessão iniciada em 2014 e o fraco crescimento do período de 2017-2018 deixaram um rastro de quase 2 milhões de empregos com carteira perdido, mas a maior parte das cidades não viu esse desastre no mercado de trabalho nos últimos cinco anos.
 
Na realidade, seis em cada dez municípios brasileiros tiveram saldo positivo de vagas formais nos anos de 2014 a 2018, segundo dados do Caged (a base de dados do governo sobre o mercado de trabalho com carteira assinada). Nesse período, a economia nacional passou por uma recessão (do segundo trimestre de 2014 ao fim de 2016) e não engrenou uma retomada mais forte desde então.
 
Esse grupo de 3.307 cidades (na sua maioria com menos de 50 mil habitantes) foi responsável por um saldo positivo de 642 mil postos de trabalho em cinco anos, suficiente apenas para reduzir o impacto das 2,5 milhões de vagas perdidas em outros 2.207 municípios do país – 56 locais ficaram com saldo zerado no período.
 
O dado está longe de ser motivo de euforia, já que esse mesmo conjunto de cidades produziu quase o triplo de vagas nos cinco anos anteriores: 1,8 milhão de postos entre 2009 e 2013. Mas aponta que a crise não atingiu o país de maneira uniforme – apesar de esses municípios serem, em sua maioria, de pequeno porte, eles representavam 67 milhões de habitantes em 2018.
 
O retrato desse grupo mostra que não há uma história única que explique o sucesso dessas localidades, mas há algumas características que as unem.
 
A mais clara é que quanto menor a cidade maior a chance de ela estar no segmento que teve saldo positivo. Enquanto entre os 46 municípios com mais de 500 mil habitantes apenas um (a catarinense Joinville) teve geração positiva, no caso das localidades com entre 20 mil e 50 mil habitantes, a proporção é de 57% de sucesso — fatia que chega a 62% entre as com 10 mil e 20 mil e 64% nas com menos de 10 mil.
 
A outra é que não é um caso isolado: em 21 Estados, ao menos metade dos municípios teve criação de emprego com carteira assinada, liderados por Goiás, com 78,5%. No balanço negativo, porém, estão dois dos três Estados de maior população do país (São Paulo e Rio de Janeiro), além de Espírito Santo, Alagoas e Amapá.
 
Além disso, os dados mostram um vigor do setor de serviços que não foi visto no restante no país. Foram 412 mil vagas geradas nas 3.307 cidades, ante 159 mil postos perdidos nos locais com saldo negativo no Caged.
 
Um exemplo desse sucesso do setor de serviços é a paranaense Medianeira, de 45,8 mil habitantes, a menor cidade entre as dez que mais criaram trabalho com carteira assinada no país: 4.147 vagas no total, sendo que 2.844 vieram do setor de serviços.
 
De acordo com Rita Maria Schierholt, presidente da Associação Empresarial de Medianeira, o município “não viu crise”. Ela afirma que um dos motivos para a geração de emprego não ter perdido tanta força (foram 6.172 vagas entre 2009 e 2013) é que o setor imobiliário e o sistema bancário vêm tendo nos últimos anos um desempenho acima da média do país, além da presença de empresas de tecnologia que estão atraindo novos investidores para o município.
 
“Isso contribui para a oferta de emprego, principalmente para o profissional jovem que em outras regiões tem dificuldade para se inserir no mercado de trabalho”, afirma a dirigente local.
 
Para Jair Pereira dos Santos, diretor do sindicato local dos comerciários, a cidade sentiu o abalo da crise do país, já que as pessoas ficaram mais nas cautelosas na hora de gastar, mas não com o mesmo impacto que em outras cidades. Ele também alerta que diminui muito a chegada de ônibus com pessoas de outros municípios da região para trabalhar na cidade. “Eram 30, 40 ônibus por dia. Hoje são 15, 20”, afirma.
 
Ele vê dois fatores principais para que a cidade tenha continuado a produzir emprego nesse período de recessão e baixo crescimento: pequena agricultura forte e a indústria local, especialmente a voltada para a alimentação.
 
No primeiro caso, os pequenos agricultores continuaram movimentando o comércio, o que deixou a economia local aquecida, atingindo ainda o setor de serviços.
 
Já em relação à indústria, a cidade é sede do frigorífico Frimesa (especializado em suínos) e viu sua exportação mais que dobrar de 2013 para cá. Lideradas pelas vendas de carne suína principalmente para Hong Kong e Cingapura, as exportações do município somaram US$ 100 milhões no ano passado, ante US$ 47 milhões cinco anos antes.
 
Histórias como a de Medianeira explicam por que mesmo a indústria, a grande vilã do emprego no período 2014-2018, com mais de 1 milhão de vagas perdidas, sobreviveu nesse conjunto de cidades. O setor criou 71 mil postos de trabalho, com 1.794 cidades tendo saldo positivo – nesse quesito, as lideranças foram dos serviços (2.667) e do comércio (2.587 municípios). A construção foi o único setor com saldo negativo nesse grupo, com 19,5 mil postos perdidos.
 

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