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Brasil entra no clube dos idosos

Fonte: Valor Econômico
 
O encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias desenvolvidas e emergentes, reunidas no G-20 em Fukuoka (Japão), no fim de semana, discutiu o estado da economia global, tensões comerciais, reforma de taxação internacional, câmbio - enfim, a agenda habitual. Mas neste ano a presidência japonesa do G-20 acrescentou um tema que tende a ser cada vez mais prioritário para o grupo: o envelhecimento da população e suas implicações.
 
O Japão tem a população mais idosa do mundo. Enfrenta o envelhecimento mais rápido, com 47 pessoas acima de 65 anos para 100 adultos em idade produtiva em 2015 (eram 19 em 1990). Em comparação, a taxa é de 26% em outros países ricos do G-20 e de 11% nos emergentes.
 
Os japoneses chegam a viver até ou além de 100 anos. A questão é como pagar por isso. O país não tem força de trabalho suficiente. Há 1,6 vaga de trabalho aberta para cada pessoa em busca de trabalho. A população vai definhar nas próximas décadas.
 
Estudos apresentados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em Fukuoka mostram que um declínio estável nas taxas de fertilidade tem levado à redução acelerada nas taxas de crescimento da população em idade de trabalhar (15-64 anos) no G-20.
 
Nos países desenvolvidos, o envelhecimento tem sido rápido também na Itália, na Alemanha e na Coreia. Também estão no estágio final de transição demográfica, com o envelhecimento a caminho e a população ativa declinando, Austrália, Canadá, França, Rússia, Espanha, Reino Unido e EUA.
 
Nas economias emergentes, Brasil e China enfrentam rápida mudança demográfica num estágio relativamente inicial de desenvolvimento. Brasil, China, Argentina e Turquia já se beneficiaram do bônus demográfico, período mais favorável da estrutura etária para o crescimento econômico, em que os habitantes em idade ativa superam os dependentes - idosos e crianças.
 
Na Índia, Indonésia, México, Arábia Saudita e África do Sul, a taxa de fertilidade está em queda, mas continua elevada, e suas populações envelhecerão mais lentamente.
 
O Brasil, em particular, entra acelerado no clube dos idosos. A taxa de fertilidade no país está abaixo da de reposição, na qual se substitui uma geração por outra, o que implica menor força de trabalho futura. Pelas estimativas da OCDE, em 2060 o Brasil poderá ter 50 pessoas com mais de 65 anos por 100 adultos em idade produtiva, comparado a 16 pessoas em 2016. O país teria, assim, dentro de algumas décadas, mais idosos do que os EUA.
 
A discussão mostrou a necessidade urgente de os países se prepararem para a "economia da longevidade", na qual a inclusão financeira é crucial. Idosos vão viver com aposentadoria potencialmente menor. O risco de dificuldades financeiras e pobreza por causa da insuficiência de renda, mas também por despesas adicionais, tende a aumentar. Considerando-se a baixa taxa de fertilidade atual, não terão famílias ou vínculos familiares para ajudá-los. Em economias com alta renda, apenas 46% dos adultos economizam dinheiro para a velhice. Essa taxa é de apenas 16% nos países de renda baixa e média como o Brasil. Haverá assim um forte risco criado pelo desalinhamento entre longevidade de vida e longevidade dos ativos.
 
O grupo destacou implicações macroeconômicas importantes. A previsão é que, nos países onde menos trabalhadores estão disponíveis e a taxa de participação da força de trabalho cai, a produção vai inevitavelmente declinar. No entanto, o tamanho desse declínio depende, por exemplo, de como as famílias e as companhias reagem à mudança demográfica. O envelhecimento vai também exercer mais pressões sobre as finanças públicas com aumento das despesas da Previdência e do sistema de saúde.
 
Análises do FMI indicam que, na ausência de reformas, despesas com aposentadoria e sistemas de saúde poderiam aumentar em sete pontos percentuais do PIB nos países ricos e 6% nos emergentes entre agora e 2050. Isso poderia tornar a dívida pública insustentável, exigindo fortes cortes em outras despesas públicas ou amplo aumento nos impostos, travando o crescimento econômico.
 
Os países no G-20 concordaram que mudanças demográficas exigirão ações abrangendo políticas fiscal, monetária, financeira e estrutural. Governos precisarão tomar medidas que fortaleçam habilidades de alfabetização digital e financeira dos idosos, para ajudá-los a fazer um planejamento financeiro vitalício. Uma pesquisa mostrou que menos de 50% dos adultos poderiam responder a 70% das questões de conhecimento financeiro nos países do G-20. O grupo sugere também que o setor financeiro crie soluções digitais simplificadas, com proteção adequada, incluindo avisos importantes sobre golpes, ou permita que os idosos definam lembretes de calendários automáticos para receber pagamento ou pagar contas em dia.


 

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