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Previdência é importante, mas vai fazer Brasil crescer e criar empregos?

Fonte: UOL
 
Desde antes da eleição de outubro do ano passado, o brasileiro tem ouvido quase diariamente que a reforma da Previdência é a medida econômica mais urgente para que o país volte a crescer e gerar empregos.
 
O argumento é que, controlando e reduzindo os gastos com os aposentados, o governo voltará a ter dinheiro para outros projetos e que os empresários voltarão a investir na economia. Mas não é bem assim.
 
Economistas ouvidos pelo UOL consideram a reforma da Previdência importante, de fato, mas afirmam que o governo precisa pensar além para gerar empregos e retomar o crescimento.
 
"A reforma não é uma bala de prata, não resolve o problema. Mas não adianta tentar fazer qualquer coisa sem antes arrumar a Previdência", afirmou Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, agência de serviços para o mercado financeiro.
 
"É uma condição necessária, os estímulos só virão depois da reforma. Mas precisa fazer mais", afirmou Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, que traça um cenário pouco otimista para 2019. "Internamente, trabalhamos com uma queda de 0,2% do PIB [Produto Interno Bruto] no primeiro trimestre. Para o ano, nossa projeção é de 1% de crescimento."
 
Gonçalves e Vieira afirmam que existem planos e capital para tocar projetos no Brasil que dependem da aprovação da Nova Previdência.
 
"Existe dinheiro, mas ninguém está disposto a mostrar agora", disse Vieira. "Os planos de investimento, neste momento, estão na gaveta, por falta de perspectiva de retorno", afirmou Gonçalves. "O investimento vai ser destravado na medida em que a incerteza for reduzida", disse o economista do Itaú Unibanco.
 
"A reforma melhora a confiança das empresas, investidores e famílias, mas, no geral, a economia está muito desaquecida", declarou Nelson Marconi, coordenador do curso de graduação de economia da FGV, em São Paulo, e coordenador do programa de governo de Ciro Gomes nas eleições para a Presidência de 2018. "Em uma situação de crise assim, você precisa ter algum estímulo", disse.
 
Paulo Feldmann, professor de economia brasileira da FEA-USP, concorda. "A Previdência é importante, mas não vai resolver várias questões. Assim como a reforma trabalhista não resolveu, e havia a expectativa que ela resolvesse. É preciso ter políticas públicas", afirmou.
 
A seguir, esses especialistas comentam sobre o que mais além da Previdência pode ser feito para retomar o crescimento e a geração de empregos.
 
Fazer obras de infraestrutura
 
Investir em pontes, rodovias, portos, aeroportos etc. é a medida que mais teria impacto a curto prazo, na opinião dos entrevistados. "Tudo isso é muito bom, porque melhora a competitividade da economia", afirmou Feldmann.
 
O mais importante é que, para essas obras, você precisa contratar trabalhadores pouco qualificados
Paulo Feldmann
 
Precisaria ter um programa muito mais agressivo, com recursos públicos. O governo deveria usar o BNDES de maneira horizontal e fazer mais concessões
Nelson Marconi
 
Os dois economistas entendem que não há dinheiro no caixa do governo e que a solução teria que vir do setor privado, incluindo companhias estrangeiras.
 
Há empresas espanholas, chinesas, alemãs e norte-americanas com capital e que podem vir para cá participar das obras de infraestrutura, Mas para isso acontecer, tem que ter política pública
Paulo Feldmann
 
O empresário não vai botar dinheiro aqui enquanto não resolver esse imbróglio político [reforma da Previdência]
Jason Vieira
 
Descomplicar os impostos
 
Simplificar o sistema de pagamento de impostos, com a reforma tributária, é outra medida importante defendida pelos analistas.
 
No Brasil, são necessárias 2.000 horas por ano para pagar impostos. Na Bolívia, que também é ruim, se gasta metade do tempo
Fernando Gonçalves
 
Não é uma proposta para reduzir impostos, ela vai simplificar o pagamento e tem chances de mudar a economia brasileira
Jason Vieira
 
Por isso, tanto Gonçalves quanto Vieira destacaram a aprovação da proposta de reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça, na semana passada, na Câmara dos Deputados.
 
"Está avançando de uma forma rápida, é um bom sinal", declarou Gonçalves. De qualquer forma, a expectativa é que essa proposta só ande após a aprovação da reforma da Previdência.
 
Desempregados devem virar empreendedores
 
Segundo o Sebrae, 99% das empresas no Brasil são micro ou pequenas, mas elas respondem por apenas 26% do PIB. "Há países na Europa em que essas empresas geram 60% do PIB", afirmou Feldmann, da FEA-USP. Em sua avaliação, é preciso estimular esse setor.
 
Hoje há 14 milhões de desempregados. É impossível achar que as empresas vão contratar essas pessoas de uma hora para outra. Tem que transformar as pessoas em empreendedores.
Paulo Feldmann
 
O economista afirmou que medidas como o microcrédito podem ajudar esse setor. "O Brasil não tem o básico, que é o microcrédito", disse. Vieira concorda que isso ajudaria a "liberar o potencial empreendedor do brasileiro".
 
Crédito precisa ser mais barato
 
O alto custo para conseguir empréstimos é outro ponto que merece atenção especial.
 
O empresário brasileiro ouve falar de banco e sai correndo
Paulo Feldmann
 
O governo precisa criar formas para que os bancos voltem a emprestar em taxas civilizadas
Paulo Feldmann
 
O problema do crédito é apontado por muitos como resultado da concentração bancária no Brasil. Para Nelson Marconi, há alternativas nas fintechs e nos pequenos bancos.
 
O ideal seria incentivar as fintechs e autorizar os bancos menores a fazer operações de crédito
Nelson Marconi
 
O cadastro positivo de pessoas físicas e jurídicas também pode trazer bons resultados, especialmente em cidades pequenas e afastadas dos grandes centros.
 
Esse sistema permite que instituições menores e até estrangeiras possam atuar no Brasil, trazendo um alento para regiões que têm pouco acesso a serviços bancários
Jason Vieira
 

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