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Emprego em crise

Fonte: O Estado de S. Paulo
 
Falta emprego para um em cada quatro trabalhadores no Brasil, informou o IBGE na última terça-feira (30). Segundo dados da Pnad Contínua, há 28,3 milhões de brasileiros nessa situação, o maior patamar já registrado na pesquisa. São desempregados, pessoas que desistiram de procurar diante da dificuldade de encontrar uma vaga, trabalhadores que fazem uma jornada semanal inferior a 40 horas e gostariam de ter uma carga horária maior, e pessoas que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis para começar por razões diversas, como não ter com quem deixar o filho.
 
No primeiro trimestre deste ano, nenhum setor da economia contratou. A falta de disposição do empresariado para abrir vagas elevou o número de desempregados para 13,4 milhões — patamar semelhante ao de um ano antes—e fez a taxa de desempregos subir a 12,7%.
 
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o grupo de 28,3 milhões dos chamados subutilizados alcançou este patamar em razão do número de desempregados e do aumento dos desalentados, que chegaram a 4,8 milhões.
 
ESPERA PELA PREVIDÊNCIA
 
Os três primeiros meses do ano historicamente têm taxas de desemprego mais elevadas, devido à dispensa de trabalhadores temporários, do comércio e do serviço público. Mas, quando 2019 começou, as expectativas eram de melhora da atividade econômica e, consequentemente, de geração de vagas. Como o setor produtivo e os agentes do mercado condicionaram essa expansão da atividade à aprovação da reformada Previdência, e a tramitação da proposta na Câmara está levando mais tempo do que o esperado, a confiança do empresariado foi abalada. As empresas não só continuam congelando vagas como voltaram a demitir. E, agora, seguem em compasso de espera.
 
— Como a aprovação da reforma deve ficar para o segundo semestre, e não se sabe que texto vai passar, os investimentos serão postergados. Com isso, melhora no mercado de trabalho, só em 2020 — afirma Maria Andréia Parente Lameira, economista do Ipea.
 
Na última terça-feira (30), a fila que se formou na feira de empregos organizada pela ONG Gerando Vidas, no Maracanã, Zona Norte do Rio, dava uma dimensão do problema. Ela começou na tarde do dia anterior.
 
Elizete Aguiar Vieira, de 56 anos, e o filho Bruno Aguiar Vieira, de 35, foram tentar uma das 970 vagas oferecidas. Há três anos sem emprego, ela buscava um emprego como camareira. Ele, há nove meses na mesma situação, queria oportunidade na área de serviços. Um cenário que poderia ser pior, não fosse a renda mensal de R$ 3 mil do marido.
 
— Fico angustiada, quero ajudar nas contas de casa. Até depressão já tive. Cheguei a mudar de casa para não ter que pagar aluguel. Esperava que a economia fosse melhorar este ano —comenta Elizete.
 
Boa parte de quem conseguiu uma ocupação no último ano recorreu à informalidade. Vendedores de quentinhas e motoristas de aplicativos de transporte se proliferaram. Como o trabalho sem carteira paga salários mais baixos, a renda média real do brasileiro, estimada em R$ 2.291 no primeiro trimestre, está estagnada há quase dois anos. Nos três primeiros meses deste ano, só as empregadas domésticas tiveram ganho na renda, reflexo do reajuste do salário mínimo.
 
—A crise foi tão severa que não basta gerar vaga para quem está procurando, pois tem quem está desalentado, os que estão chegando no mercado de trabalho, os subocupados por insuficiência de horas. É um quadro que não vai mudar em um curto prazo, porque a economia precisa crescer mais e de forma sustentável para absorver todos esses grupos — diz Thiago Xavier, economista da Tendências.
 
A renda média real do servidor público também teve alta, de 2,2%, para R$ 3.706. Mas, segundo Azeredo, a média ficou maior porque, no início de ano, a administração pública desliga os contratados temporariamente, que geralmente têm salários mais baixos.
 
Após a divulgação dos dados, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o levantamento do IBGE:
 
— Não vou entrar em briga com o IBGE, mas acho que a metodologia a gente poderia aperfeiçoá-la, com todo respeito que a gente tem como trabalho do IBGE.
 
Desempregado desde janeiro, após ser dispensado do cargo de atendente de telemarketing, o estudante Luciano Oliveira, de 19 anos, foi ao Maracanã em busca de uma vaga. Ele conta que teve de voltar a morar com a mãe.
 
— Hoje, o que sobrou das minhas reservas eu uso para pagar a passagem para buscar um emprego. Está difícil. Se eu não arrumar emprego, não vou conseguir pagar a faculdade—lamenta o estudante, que vai fazer o Enem este ano.
 
Na feira de empregos, muitas pessoas comentavam sobre as dificuldades para seguir procurando trabalho após meses sem renda.
 
—Peguei dinheiro emprestado, vendi engradados de cerveja, para pagar o trem e vir pra cá. Não posso desistir. A condição está ruim para todos— afirma a aposentada Filomena dos Santos, de 62 anos, que busca uma vaga desde que foi demitida de um supermercado, no ano passado.
 

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