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Mercado de trabalho só deve reduzir desalentados e subutilizados em 2020

Fonte: DCI
 
Crise desidratou o número de postos não só em quantidade, mas também em qualidade, efeito que provoca a criação de vagas com baixa remuneração e compromete renda média das famílias
 
A taxa de desemprego deverá subir para 12,8% no primeiro trimestre deste ano. Além disso, a lenta retomada da economia e do consumo adia a queda do índice para abaixo dos 11% para só a partir de 2020. Para este ano, a taxa média deve chegar a 12%.
 
Os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua) apontam que a taxa de desocupação ficou em 12,4% no trimestre móvel findado em fevereiro. O valor é uma queda de 0,2 ponto percentual em relação ao observado em igual período do ano anterior (12,6%), mas corresponde a um aumento de 0,8 ponto percentual na comparação com o trimestre móvel imediatamente anterior (11,6%).
 
De acordo com o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) Jaime Vasconcellos, apesar do aumento ser considerado sazonal devido aos trabalhadores dispensados de empregos temporários do final do ano, a população subutilizada do País chega a quase 28 milhões de pessoas. “Em uma economia que tem dois terços baseados no consumo das famílias, o emprego é o principal condicionante de crescimento. Apesar de as nossas projeções contarem com uma melhora até dezembro depois de um pico de 12,8% de desemprego no primeiro trimestre, é importante frisar que não existe uma saída pontual para diminuir o número de desalentados no País”, avalia o assessor.
 
As estimativas da FecomercioSP taxam em 11,2% os níveis de desemprego em dezembro deste ano. Na mesma linha, enquanto o número de pessoas ocupadas demonstrou um aumento de 1,13%, de 91,091 milhões no trimestre móvel de dezembro a fevereiro de 2018 para 92,127 milhões em igual intervalo deste ano, o rendimento médio real avançou 1,6% na mesma comparação, de R$ 2.268 para R$ 2.285.
 
Ao mesmo tempo segundo os últimos dados do Banco Central, o endividamento total das famílias no Brasil atingiu 42,9% em janeiro deste ano, uma alta de 1,6 p.p. em relação ao mesmo mês de 2018 (41,3%). “A informalidade cresceu e a renda continua muito limitada em um cenário de alto endividamento no orçamento familiar. Ao mesmo tempo, os juros para os consumidores continuam muito altos mesmo com a Selic [taxa básica de juros] no menor patamar histórico. O desemprego não baixa com uma política ou lei específica, de um mês para o outro. Precisamos de uma conjuntura econômica que permita estabilidade”, avalia.
 
Ainda conforme o Banco Central, a taxa média de juros para pessoas físicas ficou em 31,2% em fevereiro deste ano e responde por um spread (diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros cedidos em empréstimos) de 25,3 pontos percentuais.
 
Ainda que o cenário do índice de emprego melhore, porém, o movimento ainda não refletirá no aumento da renda familiar, uma vez que ainda corresponderão a empregos de baixa capacitação e salários menores. Os primeiros setores a demonstrarem alguma retomada serão o de Serviço e Comércio. “Mesmo que o emprego comece a reagir a partir da melhora da confiança, é um avanço muito gradativo, já que esse índice sempre é o último a reagir”, afirma o professor do departamento de economia da Universidade de São Paulo (USP) Helio Zylberstajn.
 
“A crise desidratou o mercado de trabalho em quantidade, mas também em qualidade. Assim, os primeiros empregos a serem gerados serão os que oferecem baixa remuneração. O impacto na renda das famílias demora ainda mais para acontecer”, diz Vasconcellos.

 

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