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O que acontece quando o pessoal do trabalho te segue no Instagram

Fonte: Valor Econômico / Stela Campos*
 
Imagine que você virou a noite para terminar um relatório para entregar pela manhã para o seu chefe, e logo que se conecta ao Instagram, bem cedinho, dá de cara com uma foto dele tomando água de coco em um resort na Bahia. Uma coisa parece certa; naquele momento ele não vai ler nada do que você mandou. Quem sabe à tarde, mas muito provavelmente ele vai emendar o fim de semana na praia e você correu à toa.
 
Essa é apenas uma das muitas situações em que fica claro que não se deve misturar rede social e trabalho. O manto da inviabilidade que as pessoas imaginam ter ao publicarem suas fotos pessoais no Instagram é realmente incrível. As pessoas não refletem sobre quem está do outro lado da tela e simplesmente postam tudo, sem qualquer cerimônia. Não importa se o chefe, o colega de trabalho ou o cliente fazem parte da sua rede. Trata-se de um lugar, onde sem refletir muito, você também foi adicionando todo mundo.
 
Os brasileiros gostam de se relacionar e adoram redes sociais, isso não é uma novidade. Talvez agora, no calor do debate político, tenhamos ficado um pouco mais seletivos, mas uma pesquisa realizada pela consultoria Randstad mostra que 86% dos profissionais no país estão conectados com colegas de trabalho em redes sociais pessoais, o maior índice entre 33 países. A conexão com o chefe é um pouco mais tímida, e foi revelada por apenas 58% dos participantes.
 
O maior problema de ter o pessoal do trabalho no Instagram é ver o que não precisava. Para que saber o time, a banda, o partido ou a religião do dono da empresa? Ou mesmo ver fotos constrangedoras da intimidade do seu colega de baia no churrasco? Atualmente, quase 1 bilhão de pessoas usam o Instagram no mundo, embora especialistas já tenham alertado que ele pode ser mais viciante do que cigarro e bebida. Então, não é necessário se culpar tanto por estar lá.
 
Mas dá para se arrepender um pouco sim por fazer parte desse reality show da vida dos outros quando eles são da firma. Um estudo da consultoria Adecco mostrou que 1,6 milhão de trabalhadores australianos se arrependiam de ter convidado pessoas do trabalho para serem seus amigos on-line. E pior, um em cada quatro entrevistados disse ter mudado sua opinião sobre seus colegas de empresa depois de ver o que eles postavam nas redes sociais.
 
Dá para colocar filtros de privacidade, mas não dá para bloquear um chefe ou um colega que quer segui-lo no Instagram. Pega mal. Então, o jeito é ser sempre criterioso com o que se posta. Uma boa dica de um especialista em mídias sociais é não colocar nada que não possa ser visto ou comentado em uma cafeteria lotada ou durante um almoço da família. Não agindo por impulso você evita arrependimentos depois.
 
Mas infelizmente ninguém está totalmente protegido. Todos estamos no Instagram, mesmo se não tivermos uma conta pessoal. Alguém sempre tira uma foto e posta, independentemente da sua vontade. Pode ser, inclusive, aquele fornecedor chato que sacou o celular em um evento e depois te tagueou como seu melhor amigo. Ou alguém que clica aquela sua passadinha discreta na festa do concorrente, que depois todo mundo da firma que te segue dá um like.
 
Difícil fugir ou esconder qualquer coisa hoje. Há quem não se importe e adore um holofote, mesmo não sendo um influenciador digital, aqueles que ganham milhões para vestir uma camiseta ou passar um batom.
 
Uma amiga me disse que o melhor a fazer é estar sempre preparado. É possível fazer isso testando qual o seu melhor ângulo para foto ou vídeo no próprio celular. Daí "strike a pose", como diria a Madonna, em qualquer situação. Dessa forma, é possível diminuir o risco de sair torto ou monstruoso pela lente dos outros. Uma vez no Instagram, por mais medonha que seja, sua imagem permanece. Pior, vai caminhando de like em like até a eternidade. No Stories, o risco de pagar um mico, com tantos penduricalhos, é ainda maior. A sorte é que lá, pelo menos, tudo some em 24 horas.
 
Cuidar da imagem e da reputação pessoal no Instagram e em todas as redes sociais é essencial para todo profissional. Dá trabalho, mas não é possível evitar. É muito difícil recuperar a sua moral depois de um equívoco nas redes. Aprenda a ser um estrategista. Seus amigos, com certos comentários, podem te constranger diante de seus relacionamentos profissionais, então tente avisar e não puxe conversa com quem não sabe se comportar. Todo cuidado é pouco. Quando o Roberto Carlos cantava: "eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar", ele não tinha ideia do que seria administrar todos eles no Instagram. Se tivesse, tinha diminuído esse número para cem.
 
*Stela Campos é editora de Carreira
 

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