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Brasil e Argentina: uma parceria em busca de equilíbrio

Ivan Ramalho / ComexBlog (*)

O intercâmbio Brasil/Argentina, representado pela soma das exportações e importações, foi marcado por um crescimento expressivo nos últimos anos, passando de US$ 9,2 bilhões em 2003 para US$ 39,6 bilhões em 2011.
 
Historicamente o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás somente dos EUA, a Argentina perdeu esta posição para a China em 2008, mas ainda assim mantém durante os últimos anos, a mesma participação no total do comércio brasileiro com o exterior, em torno de 8,5%.
 
Como característica principal do relacionamento comercial entre os dois países pode-se apontar a integração entre diversos setores, na indústria, no agronegócio e nos serviços, com relevante fluxo de investimentos argentinos no Brasil e vice versa, fazendo com que esta relação tenha se tornado estratégica para os dois mercados.
 
Recentemente, por conta de problemas no balanço de pagamentos, a Argentina vem tentando obter um maior equilíbrio no comércio com o Brasil, por meio de aumento das vendas de produtos argentinos. É fato que, não obstante o Brasil venha aumentando ano a ano as importações da Argentina, a competitividade das exportações brasileiras vem propiciando volumes crescentes de vendas nos últimos anos para o país vizinho. Assim, o saldo comercial em favor do Brasil chegou a US$ 5,8 bilhões em 2011.
 
É consenso no Brasil, tanto por parte do governo quanto do setor privado, que a difícil situação econômica do país vizinho é prejudicial para toda a região, principalmente para o Brasil, que tem setores fortemente interligados com a Argentina. Há um claro interesse do Brasil em apoiar a Argentina nesse momento de crise, atendendo ao mesmo tempo aos interesses dos setores exportadores, que viram as vendas para a Argentina caírem 23% em abril de 2012, comparativamente ao mesmo mês do ano passado.
 
Este fato, além de ser um problema para os exportadores brasileiros, também afeta importadores argentinos, sobretudo pela falta de motores para veículos de carga, equipamentos agrícolas, calçados e têxteis oriundos do Brasil.
 
Negociações intensas tem sido feitas, envolvendo não só os órgãos de governo responsáveis pelo comércio exterior nos dois países como empresários argentinos e brasileiros, em iniciativas que buscam, sobretudo, manter o clima favorável que sempre pautou o relacionamento entre os dois parceiros.
 
Recentemente uma missão da Argentina trouxe quase 600 empresários para negociar com empresários brasileiros, mostrando o esforço que está sendo feito para tentar superar os problemas. O foco das discussões está em aumentar as importações brasileiras da Argentina de uma série de produtos hoje importados de outros países, sem prejudicar nossas vendas, com a redução das barreiras hoje existentes para as exportações brasileiras.
 
Também nesse sentido, a Abece está apoiando uma conferência organizada pelo Cebri – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, a ser realizado no Rio de Janeiro, em 04 de junho próximo, sob o título “Brasil/Argentina: construção de uma estratégia conjunta”, cujo objetivo principal é ouvir especialistas nas áreas de infraestrutura, energia, serviços, indústria e agronegócio, e identificar caminhos para a construção de uma agenda positiva no que concerne à competitividade, coordenação política, integração de cadeias produtivas e elevação de investimentos.
 
Em resumo, a iniciativa tem como pano de fundo a percepção de que o relacionamento entre Brasil e Argentina é de importância estratégica para os dois países igualmente, devendo ser explorados todos os caminhos nos âmbitos político e econômico para aprofundar esta integração.



 


(*) Ivan Ramalho
presidente da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Exterior (Abece)
 

 


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